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At Tufail b. Amr al Dawsi

3151 2010/04/12 2024/03/29

“ó deus, dá-lhe um sinal, para que o ajudes nas boas ações que ele pretende realizar!”  oração do abençoado profeta em prol do al tufail.
 

al tufail b. amr al dawsi era um dos senhores da tribo dos daws,nos dia da al jahiliya1, e um dos árabes mais nobres. era conhecido comosendo um exemplo vivo de cavalheirismo. a porta da sua casa estava sempre aberta, e havia sempre comida cozinhando no seu fogão para um convidado ou outro .alimentava os famintos, proporcionava segurança aos temerosos, e oferecia proteção aos indefesos. acima de tudo, era um homem de letras, um poeta com refinados sensos, tendo um conhecimento intuitivo da beleza da linguagem. com ele, as palavras operavam milagres.   al tufail saíu da sua terra natal, na tihama2, dirigindo-se para makka, no tempo da vigente luta entre o abençoado profeta e os pagãos da tribo dos coraixitas. cada lado tentava conseguir apoiadores e obter mais ajuda para a sua causa. o abençoado profeta estava a chamar o povo para o senhor, sendo que suas armas eram a fé e a verdade. os coraixitas estavam a lutar contra o chamamento dele, utilizando todos os tipos de armas, não se detendo perante nada, para evitarem que o povo o seguisse.al tufail passou a se envolver despreparadamente naquela porfia. virtualmente ele entrou no campo de batalha por engano. não tinha ido a makka para aquele propósito, e mohammad (s) – e seus problemas com os coraixitas – jamais lhe havia passado pela cabeça. mas a estória de al tufail e da sua luta é inesquecível. iremos ouvi-la nas palavras do próprio al tufail, como estão registradas na história. ela diz:  “cheguei a makka, e logo que os senhores dos coraixitas puseram os olhos em cima de mim, chegaram-se e me deram calorosas boas-vindas,
 

 e me trataram como um hóspede honrado. os senhores e os maiorais deles se aproximaram, e me disseram:  “‘tufail, tu chegaste à nossa terra num tempo em que esse homem, que diz ser profeta, vem corrompendo os nossos assuntos, e desfigurando a estrutura da nossa unidade. tememos que isto que está acontecendo a nós aconteça contigo, na tua posição de líder do teu povo. não fales com o homem, e não ouças nada dito por ele, porque ele tem a fala como mágica. pode separar o filho do pai, a esposa do seu marido, e pode dividir irmãos entre si.’”   al tufail continua:  “juro por deus, eles se puseram a contar-me estórias distorcidas sobre ele, fazendo-me temer, por mim e por meu povo, quanto aos feitos

extraordinários dele. decidi firmemente não me aproximar dele, falar com ele, ou ouvir o que ele dizia.  “quando eu ia à masjid3 e caminhava em torno da kaaba, e apresentava meus respeitos aos ídolos que costumávamos glorificar, tapava meus ouvidos com algodão, temendo que alguma coisa que mohammad estava a dizer chegasse aos meus ouvidos. logo que eu adentrava a masjid, encontrava-o de pé na caaba, dizendo uma oração diferente das nossas, e fazendo uma cultuação diferente das nossas. sua aparência me fascinava, e sua maneira de cultuar me comovia. sem querer, encontrava-me indo, devagarinho, em direção a ele, até que ficava bem perto dele. foi da vontade de deus que eu pudesse ouvir algo do que ele estava a dizer. era uma coisa bela, então eu disse a mim mesmo:    “‘que tua mãe te perca, tufail. tu és um sensível poeta que sabe dizer a diferença entre a alocução bela e a feia. que te poderá impedir que ouças o que o homem tem a dizer? se for coisa boa, aceitá-la-ei; se for má, não a acatarei.’ permaneci por ali até que o abençoado profeta se pôs a caminho do seu lar; e quando ele entrou na sua casa, entrei atrás dele, e disse:  “‘ó mohammad, teu povo contou-me umas coisas sobre ti cuja natureza me amedrontou, tanto que chegei a tapar os ouvidos com algodão para que não pudesse ouvir o que dizias. foi da vontade de deus que pude, por fim, ouvir algo, e confesso que o ache lindo. dize-me, que éque isso que estás a ensinar?’

   

 “então ele me falou sobre o islam, e recitou para mim as suratas doalcorão, al ikhlass e al falac. juro que nunca havia ouvido nada tão belo, ou tomado conhecimento de nada tão preciso como os seus ensinamentos. estendi minha mão a ele, e prestei testemunho de que não há deus a não ser deus, e que mohammad é o seu mensageiro. assim foi que entrei para o islam.   “depois daquilo, permaneci em makka por um certo tempo, para que pudesse aprender ecerca do islam e guardar na memória o que pudesse do alcorão; e antes de voltar para o meu povo, disse: “‘ó mohammad, sou um homem a quem o meu povo é obediente;

então vou voltar para ele e chamar os indivíduos para o islam; assim, por favor, reza para que deus me dê um sinal que irá me ajudar a chamá-los.’  “o abençoado profeta fez uma oração, dizendo: ‘ó deus, dá-lhe um sinal!’ “então eu parti para a minha terra natal e, quando cheguei ao alto dum morro que dava para os seus lares, uma luz, como uma lanterna, apareceu repentinamente entre os meus olhos. eu disse:  “‘por favor, ó deus, não a faças ficar no meu rosto, senão eles irão pensar que se trata duma punição por eu ter abandonado o culto aos nossos ancestrais!’   “a luz passou, do meu rosto, para o cabo do meu chicote. todos podiam ver a luz a brilhar no escuro como uma candeia pendurada, conforme eu descia a encosta do morro. quando cheguei ao pé do morro, meu pai, que era um homem avançado em idade, aproximou-se de mim. disse-lhe: “‘afasta-te de mim, pai; não pertenço mais a ti, nem tu pertences mais a mim.’ “‘por que, meu filho?’ “‘tornei-me muçulmano, e sigo a religião de mohammad (s).’

   “‘muito bem, meu filho’, replicou ele. ‘irei seguir a vossa religião.’ “‘vai lavar-te’, eu disse, ‘e purifica as tuas vestes; depois vem a mim para que eu te ensine o que me foi ensinado.’   “quando ele se havia lavado, purificado suas vestes e voltado a ter comigo, eu lhe expliquei o islam, ele o aceitou e se tornou um muçulmano. então apareceu minha esposa, e eu disse a ela: ‘afasta-te de mim, pois tu não mais me pertences, nem eu pertenço a ti.’  “‘por que, quando eu seria capaz de trocar as vidas dos meus pais pela tua!’   “eu disse:“‘o islam te separou de mim, pois me tornei muçulmano, e sigo a religião de mohammad (s).’  “‘a tua religião será também a minha.’   “‘então terás de ir purificar-te na nascente do zuch chara.’ (tratava-se duma nascente ao sopé da montanha onde havia um dos ídolos da tribo, sendo que este era chamado de zuch chara.)    “‘ora, tens medo de que o ídolo se vingue e ameace um dos nossos filhos?’

   “‘o ídolo que se dane! não compreendes? aquela pedra sombria não te poderá causar dano algum. disse para ires lá porque não é decente banhares-te onde as pessoas te possam ver.’   “expliquei o islam a ela, que o aceitou e tornou-se muçulmana. depois chamei toda a tribo dos daws ao islam, e todos eles se retraíram exceto abu huraira4, que rapidamente aceitou.”   al tufail continua sua estória, dizendo:  “então eu fui, juntamente com o abu huraira, ter com o abençoado profeta, em makka, e ele me perguntou: “‘e quanto àqueles que deixaste para trás, ó tufail?’    “‘seus corações estão amortecidos pela ignorância e em profunda descrença. os daws estão sobrecarregados com seus pecados e fanatismos.’ “naquele ponto, o abençoado profeta se levantou, fez a ablução, rezoue ergueu as mãos para os céus.”   ouçamos esta parte da estória, com as palavras de abu huraira: “quando o vi fazendo aquilo, temi que ele proferisse uma maldição

sobre minha tribo, para que ela perecesse, então exclamei: “‘povo meu...’ “então o abençoado profeta (s) tornou a sua súplica audível, dizendo: “‘ó deus, guia o povo dos daws, guia o povo dos daws, guia o povo dos daws!’ depois voltou-se para tufail, e disse: ‘volta para o teu povo; sê brando para com os indivíduos, e continua a chamá-los ao islam.’” al tufail continua sua estória, dizendo: “permaneci na terra dos daws, chamando-os ao islam até que o abençoado profeta realizou a hijra (hégira) para madina, e as batalhas de badr, uhud e da trincheira haviam acontecido. então fui para junto do abençoado profeta, levando comigo oitenta famílias que aceitaram oislam e se tornaram bons muçulmanos praticantes. o abençoado profeta
 

 ficou encantado, e ordenou que recebêssemos um quinhão dos despojos de khaybar. nós pedimos: ‘ó mensageiro de deus, faze com que sejamos o flanco direito do teu exército quando fores para a batalha, e faze com que o nosso lema seja: mabrur (que deus aceite nossas boas ações).’”  al tufail continua sua estória:  “permaneci com o abençoado profeta até que deus o ajudou a retomar makka, quando lhe implorei:  “‘ó mensageiro de deus, manda-me para perto de zul kaffain, o ídolo de amr. b. hamama, para que eu o queime.’“o abençoado profeta permitiu que eu fosse, e eu cheguei perto do ídolo que estava rodeado por muitas pessoas. quando eu o alcancei, que estava pronto para tocar fogo nele, as pessoas, que acreditavam no ídolo, ficaram a observar. estavam certas de que o ídolo iria fazer-me mal, ou que me iria atingir um raio, caso eu causasse dano à estátua. sem fazer conta de nada, apliquei a tocha a ela, cantando em versos:  “‘ó zul kaffayn, jamais te adoraremos. nós somos mais velhos que tu, e nascemos antes de ti. vê como fazemos este fogo arder, e, com ele,te afrontamos!’ “o fogo consumiu o ídolo, sendo que, na fumaça, foi-se o que restava do paganismo, nos corações dos daws. todos eles aceitaram o islam, ese tornaram sinceros muçulmanos.” depois daquilo, al tufail continuou sendo um constante companheiro do abençoado profeta, até que, mais tarde, foi levado por deus para estar junto a ele, no céu.  quando a sucessão à liderança da comunidade caiu sobre o grupo de abu bakr as siddik, al tufail pôs a si mesmo, sua espada e seu próprio filho a serviço do califa. quando as guerras da ridda5 eclodiram, al tufail e seu filho amr ficaram na vanguarda do exército muçulmano que se havia engajado na luta contra musaylima, o falso profeta. a caminho para al yamama, teve um sonho, à noite, e pediu a seus amigos que lho interpretassem. ele disse:

    “constatei que minha cabeça havia sido raspada, uma ave saiu voando da minha boca, e uma mulher me pôs dentro do seu estômago. meu filho amr correu, tentando alcançar-me, mas não foi capaz.” “talvez isso signifique algo de bom”, disseram.  “acho que posso interpretá-lo eu mesmo”, disse al tufail. “araspagem significa que minha cabeça irá ser cortada, a ave era a minha
 

                                    
 

 


alma deixando o meu corpo, e a mulher era a terra na qual irei serenterrado. espero morrer como um chahid6. quanto ao meu filho, ele quer morrer como um chahid, coisa que eu quero que deus me conceda, mas passará muito tempo para que ele consiga o que deseja.” na batalha de al yamama, o companheiro al tufail b. amr, dos daws,lutou valentemente, provando sua fé, até que foi abatido. quanto ao seu filho amr, eis que lutou a ponto de ser ferido muitas vezes, e teve sua mão direita decepada. ele foi levado de volta para madina, deixando no campo de batalha a seu pai e a própria mão.

    durante o tempo da liderança de ômar b. al khattab, amr, o filho de tufail, compareceu à sua assembléia. a comida foi levada para ômar, e ele convidou os presentes para compartilharem com ele da refeição. amr se reprimiu, e ômar disse, na sua maneira franca:  “que há? tens vergonha de comer conosco por causa da tua mão ausente?”   quando amr confirmou, ômar disse: “juro que não tocarei a comida enquanto não a tocares tu. tu não nos repugnas e, olha, tu és o único de nós que já tem uma parte dele no paraíso!” (querendo dizer, a mão de amr.)   o sonho de morrer como um chahid martirizava o amr, sendo que ele encalçava tal sonho. quando teve lugar a batalha de al yarmuk7, amr foi um dos guerreiros que primeiro chegou ao campo de batalha, e lutou, lutou, até que encontrou o martírio que seu pai fez com que ele desejasse.que deus tenha misericórdia de al tufail b. amr, o chahid e pai deum chahid.

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1. al jahiliya – os tempos da ignorância, antes do islam, em que os árabes cultuavamos ídolos e eram leais às suas tribos, fosse na verdade ou na falsidade.
2. al tihama – uma depressão plana, paralela ao mar vermelho, no leste da arábia.
3. masjid – um local para a cultuação, usualmente chamada de “mesquita”. aqui, osantuário de makka.
4. abu huraira – ver a sua biografia na parte 57 deste livro.
5. ridda – apostasia = a pessoa abandonar e rejeitar o islam após tê-lo aceitado.
6. chahid – literalmente, significa testemunha ou testemunho; alguém que morrepor sua fé. essa espécie de morte é denominada chahada, uma palavra que tambémsignifica “testemunho”, como na nossa chahada, que diz que não há outra divindade além de deus, e mohammad é o seu mensageiro. aquele que morre como chahid é uma testemunha primordial da verdade, do seu próprio testemunho.

7. al yarmuk – uma batalha entre muçulmanos e bizantinos, desfechada em 15 h.,que terminou com a inesperada e assoberbante vitória dos primeiros. os comentadores do alcorão acreditam que aquela foi a vitória predita na surata al rum.

 

 

 

                                            
 

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