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Como o Islã Lida com a Tristeza e Preocupação (parte 2 de 4): Paciência
Tristeza e preocupação são parte da condição humana. A vida é uma série de momentos. Nos dois extremos estão momentos alegres que fazem nossos corações cantar com satisfação e momentos difíceis que nos afundam na tristeza e preocupação. No meio está a vida real: os altos, os baixos, o mundano e entediante, a doçura e a luz. E nesses momentos que o crente deve tentar estabelecer uma conexão com Deus.
O crente deve forjar um elo inquebrantável. Quando a alegria da vida encher nossos corações e mentes não devemos esquecer que é uma bênção de Deus e, da mesma forma, quando nos depararmos com tristeza e preocupação devemos perceber que isso também vem de Deus, mesmo que à primeira vista não consigamos ver a bênção.
Deus é o Mais Sábio e o Mais Justo. Qualquer que seja a condição em que nos encontremos e independente do que sejamos forçados a confrontar, é imperativo que abramos nossos olhos ao fato de que Deus sabe o que é bom para nós. Embora evitemos enfrentar nossos medos e preocupações, pode ser que odiemos algo que é bom para nós e desejemos algo que pode nos levar à ruína e condenação.
“É possível que repudieis algo que seja um bem para vós e, quiçá, gosteis de algo que vos seja prejudicial; todavia, Deus sabe todo o bem que fizerdes, Deus dele tomará consciência.” (Alcorão 2:216)
A vida desse mundo foi projetada por nosso Criador para maximizar nossas chances de levarmos uma vida abençoada na Vida Eterna. Quando enfrentamos testes, eles nos ajudam a crescer e amadurecer como seres humanos capazes de funcionar sem esforço nesse mundo transitório.
Deus não nos abandono em face das tentações e tribulações que enfrentamos nesse mundo. Eles nos equipou com armas potentes. Três das mais importantes são paciência, gratidão e confiança. O grande sábio islâmico do século 14 E.C. Ibnul Qayyim disse que nossa felicidade nessa vida e nossa salvação na Vida Eterna dependem de paciência.
“Sabei que hoje os recompenso por sua perseverança, e eles serão os ganhadores.” (Alcorão 23:111)
“... pacientes na miséria e na adversidade, ou durante os combates, esses são os verazes, e esses são os tementes (a Deus).” (Alcorão 2:177)
A palavra árabe para paciência é sabr e vem da palavra raiz que significa parar, deter ou refrear. Ibnul Qayyim explicou[1] que ter paciência significava ter a habilidade de determos o desespero, refrearmos a reclamação e nos controlarmos em tempos de tristeza e preocupação. O genro do profeta Muhammad, Ali ibn Abu Talib, definiu paciência como “buscar a ajuda de Deus".[2]
Sempre que formos atingidos por tristeza e preocupação nossa primeira reação deve ser sempre nos voltarmos para Deus. Ao reconhecermos Sua Grandeza e Onipotência começamos a compreender que somente Deus pode aliviar nossas almas conturbadas. O próprio Deus nos avisou para chamarmos por Ele.
“Os mais sublimes atributos pertencem a Deus; invocai-O, pois, e evitai aqueles que profanam os Seus atributos, porque serão castigados pelo que tiverem cometido.” (Alcorão 7:180)
O profeta Muhammad nos encorajou a chamar por Deus usando todos os Seus mais belos nomes. Em suas próprias súplicas sabe-se que dizia: “Ó Deus, lhe peço por todos os nomes com os quais Te nomeastes, ou que revelastes em Seu livro, ou que ensinastes a qualquer uma das Tuas criações ou que mantivestes oculto no conhecimento invisível Contigo.”[3]
Em tempos de tristeza e estresse, contemplar os nomes de Deus pode trazer grande alívio. Também pode ajudar-nos a focar em ficarmos calmos e pacientes. É importante compreender que embora o crente seja encorajado a não se deixar levar pelo sofrimento e angústia ou reclamar sobre estresses e problemas, é permitido que se volte para Deus suplicando e pedindo conforto.
Os seres humanos são frágeis. Nossas lágrimas caem, nossos corações são magoados e a dor às vezes é quase insuportável. Até mesmo os profetas, cujas conexões com Deus eram inquebrantáveis, sentiram seus corações constritos por medo ou dor. Também voltaram seus rostos para Deus e imploraram conforto. Entretanto, suas reclamações eram cercadas de pura paciência e aceitação do destino que Deus tinha decretado.
Quando o profeta Jacó desesperou-se por nunca mais ver seus filhos José ou Benjamim ele se voltou para Deus e o Alcorão nos conta que implorou a Deus por conforto. O profeta Jacó sabia que não fazia sentido em se voltar contra o mundo e que Deus ama e protege os pacientes.
“Disse: Só exponho perante Deus o meu pesar e a minha angústia porque sei de Deus o que vós ignorais...” (Alcorão 12:86)
O Alcorão também nos conta que o profeta Jó se voltou para Deus implorando Sua misericórdia. Estava pobre, doente e tinha perdido sua família, amigos e meios de sustento, mas ainda assim suportou tudo isso com paciência e tolerância e voltou-se para Deus.
“E (recorda-te) de quando Jó invocou seu Senhor (dizendo): ‘Em verdade, a adversidade tem-me açoitado; porém, Tu és o mais clemente dos misericordiosos!’ E o atendemos e o libertamos do mal que o afligia; restituímos-lhes a família, duplicando-a, como acréscimo, em virtude da Nossa misericórdia, e para que servisse de mensagem para os adoradores.” (Alcorão 21: 83-84)
Paciência significa aceitar o que está além de nosso controle. Em tempos de estresse e ansiedade, ser capaz de submeter-se à vontade de Deus é um conforto imensurável. Não significa que ficaremos sentados deixando a vida passar. Não! Significa que lutaremos para agradar a Deus em todos os aspectos de nossa vida, em nosso trabalho e diversão, em nossa vida familiar e nossos empreendimentos pessoais.
Entretanto, quando as coisas não saem conforme planejamos ou do jeito que queremos, mesmo que pareça que os temores e preocupações estejam nos derrubando, aceitamos o que Deus decretou e continuamos a lutar para agradá-Lo. Ser paciente é trabalho duro; nem sempre vem de forma natural ou fácil. O profeta Muhammad, que Deus o louve, disse: “Quem tentar ser paciente, Deus ajudará a ser paciente.”[4]
Torna-se fácil para nós exercer a paciência quando percebemos que é impossível contar todas as bênçãos que Deus nos concedeu. O ar que respiramos, a luz do sol em nossos rostos, o vento em nosso cabelo, a chuva na terra seca e o glorioso Alcorão, palavras de Deus para nós, são algumas das incontáveis bênçãos de Deus. Lembrar de Deus e contemplar Sua grandeza é a chave para a paciência e a paciência é a chave para o paraíso eterno, a maior bênção de Deus para as criaturas frágeis chamadas de humanidade.
Footnotes:
[1] Ibn Qayyim al jawziyyah, 1997, Patience and gratitude, tradução para o inglês, Reino Unido, Ta Ha Publishers.
[2] Ibid. P12
[3] Ahmad, classificado como Saheeh por Al Baniv.
[4] Ibn Qayyim al jawziyyah, 1997, Patience and gratitude, tradução para o inglês, Reino Unido, Ta Ha Publishers. P15