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Abdullah b. Huzafa al Sahmi

2973 2010/08/04 2024/12/01

“todos os muçulmanos deverão beijar abdullah b. hudhafa na cabeça, e eu serei o primeiro a fazê-lo.” ômar b. al khattab.

   o herói desta estória é um companheiro chamado abdullah b. huzafa al sahmi. a história pode ter tratado esse homem, como tratou milhões de árabes, e passado por ele sem lhe dar o mínimo de atenção. o islam, porém, em sua grandeza, deu-lhe a oportunidade de se encontrar entre mestres terrenos do seu tempo: cosroé parviz, o imperador sassânida, e heraclius, o imperador bizantino. com cada um deles, ele teve uma experiência, cuja estória tem permanecido viva através da história.

  

 

a estória de abdullah b. huzafa envolvendo o imperador sassânida teve lugar no sexto ano da hégira (hijra), quando o abençoado profeta resolveu enviar um grupo de seus companheiros como emissários para os impérios vizinhos. com eles, ele enviava cartas, convidando aqueles governantes para o islam. o abençoado profeta estava ciente do perigo que aquela missão envolvia. os mensageiros eram enviados para terras distantes, das quais não tinham conhecimento algum. não estavam familiarizados com as línguas aí faladas, e alheiados quanto às naturezas dos seus governantes. a despeito disso, iriam ter que exortar aqueles governantes a que abandonassem suas velhas crenças, a que deixassem de lado seus poderios e suas posições, e a que acatassem a religião dos

povoados que, até recentemente, haviam sido meros satélites dos seus reinados. tratava-se duma aventura tão perigosa, que aquele que escolhesse empreendê-la poderia contar-se como perdido; e aquele que lograsse voltar dela são e salvo poderia considerar-se renascido.

  

 

por essa razão, o abençoado profeta reuniu seus companheiros em torno dele, e se pôs de pé, ao dirigir-se a eles. após evidenciar o louvor a deus, e testemunhar que ele é o único, e que mohammad (ele próprio) era o seu mensageiro, ele começou:

 

“desejo enviar alguns de vós para os reis das terras que estão fora da arábia. não tenteis me deter, como fizeram os filhos de israel quanto a jesus, o filho de maria.”

 

 

  os companheiros do mensageiro de deus disseram que iriam fazer tudo o que ele desejasse, e que iriam para onde ele os mandasse. o abençoado profeta delegou seis dos seus companheiros para que portassem suas cartas, um dos quais foi abdullah b. huzafa al sahmi.

 

 

este foi escolhido para levar a missiva do abençoado profeta ao cosroé, o imperador sassânida.

 

 abdullah b. huzafa preparou sua montaria, despediu-se de sua esposa e seus filhos, e se pôs a caminho. sem nenhuma companhia, a não ser deus, andou sobre morros e vales, procurando chegar à distante pérsia. quando chegou ao destino, pediu que sua chegada fosse anunciada ao imperador, informando os cortesãos sobre a carta que estava endereçada ao governante deles. cosroé ordenou que sua assembéia fosse ornamentada, e ordenou que os maiorais da pérsia a ela comparecessem. quando todos estavam presentes, foi dada ao abdullah b. huzafa permissão para entrar. ele entrou de maneira despretenciosa, vestido como um árabe, envolto num manto rústico e com um delgado lenço de cabeça. postou-se eretamente, com a cabeça altiva. o poderio do islam proporcionava-lhe o porte, e seu coração estava inflamado pelo orgulho da fé.

  

 

quando cosroé o viu aproximando-se, assinalou para um dos cortesãos que pegasse a carta dele, ao que abdullah b. huzafa disse: “não; o abençoado profeta me ordenou que a entregasse nas tuas mãos, e eu nunca desobedeço uma ordem do abençoado profeta.” cosroé disse então para os seus cortesãos que permitissem que o abdullah b. huzafa se aproximasse; ele se aproximou e entregou a carta para o imperador. cosroé mandou chamar um escriba árabe de al hira, que foi levado a ele. disse ao escriba que abrisse a carta, e lesse o seu conteúdo, que era como se segue: “em nome de deus, o clemente, o misericordiosíssimo. de mohammad, o mensageiro de deus, para cosroé, imperador da pérsia.

 

 

que a paz esteja com aquele que segue a divina diretriz...” tão logo cosroé ouviu aquilo, ficou cheio de raiva. seu rosto ficou vermelho, e suas veias cresceram, enfurecido que ficou pela saudação do abençoado profeta, que começava com o próprio nome. ele arrancou a carta da mão do escriba e a fez em pedaços, explodindo:

 

“então é assim que ele se dirige a mim, sendo ele meu escravo?” depois ordenou que o abdullah b. huzafa fosse expulso da assembléia.

 

 

 abdullah b. huzafa deixou a assembléia de cosroé sem saber o que lhe iria acontecer. iria ele ser morto, ou iria ser-lhe permitido ir embora livremente? não demorou muito para que ele dissesse a si mesmo:  “juro por deus que não me importa o que me acontecerá, uma vez que entreguei a missiva do mensageiro de deus.” montou no seu camelo e se pôs a caminho.

 

 

  quando a raiva de cosroé havia amainado, ordenou que o abdullah fosse levado perante ele, mas abdullah não se encontrava em parte alguma. seus homens o procuraram, mas não encontraram nem sinal. foram ao seu encalço até à estrada para a arábia, mas ele já se havia distanciado. quando abdullah chegou ao abençoado profeta, que informou-lhe sobre o que acontecera com cosroé, e como este havia rasgado a carta, o abençoado profeta disse apenas:  “que deus rasgue em pedaços o seu domínio!”  quanto ao cosroé, ele escreveu para bazan, seu representante no

iêmen:  “envia para esse homem que tem aparecido no hijaz (referindo-se ao

abençoado profeta) dois soldados possantes. ordena-lhes que o tragam a mim.” bazan enviou dois dos seus melhores homens ao profeta (s), portando com eles a mensagem que dizia que ele deveria acompanhálos, sem demora, até ao cosroé. buzan foi além, e ordenou aos homens que observassem cuidadosamente o abençoado profeta, que descobrissem o que pudessem acerca dele, e que dessem notícias, tantas quantas

possíveis, sobre todos os seus feitos.

 

 

   os dois homens viajaram apressadamente, até que chegaram a taifa, onde encontraram alguns mercadores da tribo dos coraixtas. inquiriram acerca de mohammad (s), e ficou sabendo que poderia ser encontrado em yaçrib (madina). os mercadores pagãos voltaram para makka regozijantes, dizendo para o seu povo que não se preocupasse, porque nada mais nada menos do que cosroé havia-se tornado um obstáculo ao possível sucesso do abençoado profeta.

  

os homens de bazan dirigiram-se para madina e, ao chegarem e encontrarem o abençoado profeta, deram-lhe a carta de bazan, dizendolhe:   “cosroé, o rei dos reis, enviou-nos para que te levássemos a ele. se fores de bom grado, iremos falar bem de ti para o imperdor, e ele não te

 

fará mal. se te recusares... bem, tu deves estar ciente de que ele é, do seu poder, da sua força e da sua habilidade, capaz de subjugar a ti e ao teu povo.”

 

 

 o abençoado profeta riu e pediu que voltassem para seu acampamento, e que voltassem na manhã seguinte. quando eles voltaram a ter com o profeta (s), no dia seguinte, perguntaram-lhe se estava pronto para viajar com eles rumo ao cosroé. o abençoado profeta disse:“depois deste dia, cosroé já era. deus enviou o chirwayh, filho de

cosroé, contra ele, e o matou (em tal ou tal noite...).” eles olharam pasmados para o abençoado profeta, e perguntaram: “sabes o que estás dizendo? é isso que queres que escrevamos para bazan?”

 

 ele respondeu: “sim, e dizei para o bazan que a religião do islam irá para além do

império de cosroé. se bazan aceitar o islam, garantir-lhe-ei a sacraticidade das suas posses, e far-lhe-ei governante do seu povo.”

  

 

os dois homens deixaram o abençoado profeta, foram ter com bazan, e contaram-lhe o que havia acontecido. bazan disse: “se o que mohammad diz é verdade, então ele é deveras um profeta, se não, iremos tratar dele.”  pouco depois, bazan recebeu uma carta de shirwayh, que relatava: “eu matei a cosroé, e o fiz para vingar o nosso povo, pois eles matava os nossos nobres, violava as nossas mulheres e usurpava as nossas posses.

 

 

ao receberes esta carta, fica sabendo que deves lealdade a mim.” bazan jogou fora a carta de chirwayh, e anunciou sua aceitação ao islam. todos os persas que estavam com ele, no iêmen, naquela ocasião, aceitaram também o islam.

 

 essa é a estória de abdullah b. huzafa junto ao imperador sassânida. seu encontro com o imperador de bizâncio aconteceu derante a autoridade do califa ômar b. al kattab (que deus esteja aprazido com ele), sendo que a estória é verdadeira e singular.

  

no décimo nono ano da hégira, ômar enviou um exército para combater as forças bizantinas hostis e, naquele exército, encontrava-se abdullah b. huzafa al sahmi. o potentado bizantino já tinha ouvido estórias acerca dos soldados muçulmanos, das suas qualidades excepcionais de sincera fé, e dos seus sacrifícios em prol de deus e do seu mensageiro (s). ele expediu uma ordem dizendo que qualquer cativo muçulmano que caísse nas mãos do exército bizantino deveria ser conservado vivo e levado à sua presença. foi da vontade de deus que o

 

abdullah b. huzafa fosse cair nas mãos deles, e fosse levado perante o imperador, ao qual foi dito que abdullah havia sido um dos companheiros do profeta (s), e uma das primeiras pessoas a entrar para o islam.

 

 o imperador passou um longo tempo a observar o abdullah, dpois se dirigiu a ele, dizendo:   “quero fazer-te uma oferta.”  “e qual iria ser?”  “digo-te que se aceitares tornar-te um cristão, não irei fazer-te mal, libertar-te-ei e serei generoso contigo.”

   seu cativo respondeu firmemente: “longe de mim isso; a morte é mil vezes preferível para mim a essa oferta que ora me fazes.”   o imperador disse:  “vejo que és um homem cavalheiresco; portanto, se aceitares a minha oferta, dar-te-ei uma partilha no meu poderio e posicionamento.”

 

 envolto em seus grilhões, o cativo sorriu.  “se me desses tudo o que possuis e tudo o que os árabes possuem, eu ainda assim não iria abandonar por um segundo a religião de

mohammad.” “então farei com que morras.”  “faze como quiseres.”

  

o imperador ordenou que ele fosse crucificado, e disse para seus arqueiros que atirassem nos braços do abdullah. ele lhe ofereceu novamente a chance de se tornar cristão, mas abdullah recusou. então ele disse para os seus soldados que atirassem nas pernas de abdullah.

 

o imperador renovou sua oferta de o martirizado se tornar cristão, e ele continuou a recusar abandonar o islam. naquele ponto, ele ordenou que abdullah fosse retirado da cruz. então ele ordenou que um enorme caldeirão fosse trazido, e um fogo fosse acendido sob ele. depois ele fez com que a vasilha fosse enchida com óleo, e aquecido até que crepitasse.

 

fez com que dois muçulmanos cativos fossem trazidos, e mandou que fossem jogados no caldeirão. todos eles observaram as carnes deles se dissolverem e os ossos aparecerem. então o imperador deu a abdullah uma nova chance de se tornar cristão, e ele estava ainda mais inflexível na sua recusa.

 

perdendo a esperança, o imperador ordenou que abdullah fosse jogado no caldeirão, como o tinham sido os seus companheiros; e quando abdullah estava sendo conduzido para o sacrifício, puderam ser vistas

 

lágrimas em seus olhos. os homens do imperador o informaram sobre aquilo, e ele pensou que o abdullah estivesse choranbdo de medo de encontrar sua sina. então ele ordenou que abdullah fosse novamente levado a ele, e deu-lhe a chance final de se tornar cristão. ele recusou, e o imperador disse: “talvez tu morras! por que estavas chorando?”  ele respondeu: “chorei, quando sabia que ia morrer, porque só tinha uma alma a sacrificar para obter o aprazimento de deus. tivesse eu tantas almas para sacrificar, quanto são os cabelos da minha cabeça! com todo o prazer jogá-las-ia no caldeirão.”

 

 o tirano perguntou:  “se eu te libertar, irás beijar a minha cabeça1?”  “só se tu libertares todos os muçulmanos cativos.”  “que assim seja.”

  

 

o próprio abdullah relatou:  “então eu disse a mim mesmo:  “‘ele é um inimigo de deus, mas se eu lhe beijar a cabeça, ele irá libertar, juntamente comigo, todos os muçulmanos cativos. não haverá mal algum nisso.’”

  

ele deu um passo à frente, e beijou a cabeça do imperador, que ordenou que todos os muçulmanos cativos fossem entregues para o abdullah, e todos foram libertados.

  

abdullah b. huzafa foi à presença de ômar b. al khattab (que deus esteja aprazido com ele) e lhe contou o que havia transpirado. o justo e misericodioso governante ômar ficou grandemente aprazido. quando ele olhou para os prisioneiros que haviam sido libertados, disse: “todos os muçulmanos devem beijar a cabeça de abdullah b. huzafa,

e eu serei a primeira pessoa a fazer isso.” e se levantou, e o beijou na cabeça.

 

 

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