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Anja, ex-cristã, Alemanha (parte 4 de 4)

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1607 2014/09/02 2024/12/13

A própria Heide ainda estava muito recente no Islã.  Ainda assim já estava à vontade na comunidade islâmica de nossa cidade.  Ela costumava fazer tudo de coração e dedicação.  Já estava sendo considerada como professora para uma escola islâmica.  No caminho para nosso encontro ela me contou o que devia esperar:


"O grupo consiste de aproximadamente 30 mulheres de origem alemã e turca. Elas se encontram uma vez por semana nas dependências de uma organização islâmica turca. A líder do grupo, Mariam, é uma muçulmana alemã com uns 50 anos de idade. Morou alguns anos com o marido na Turquia, onde ambos participavam em muitas atividades islâmicas. Mariam, que agora está viúva, se engaja em atividades islâmicas na Alemanha também. Dá palestras sobre temas islâmicos e fundou esse grupo de mulheres. Durante o encontro Mariam daria uma aula sobre o Islã e, então, as mulheres que quisessem ficariam um pouco mais para um bate-papo. Levamos chá e bolo."


Essa semana era o bolo era responsabilidade de Heide.  Levou tempo no forno e Heide estava um pouco atrasada.  Por isso estava correndo.  "Mariam não fica nada satisfeita com as pessoas chegando atrasadas." Infelizmente não conseguimos estacionar perto do prédio.  Então Heide simplesmente dirigiu até o pátio.  Tivemos sorte.  Um dos carros estacionados estava prestes a sair e um homem amigável com aparência turca sinalizou para nos ajudar a colocar o carro naquele espaço livre.


A multidão era fascinante para mim.  "Todos estão indo para o encontro?" Heide riu: "Isso seria ótimo". Claro que nem todos estavam indo para o encontro. Heide me explicou que todo final de semana o local ficava lotado, já que a organização turca realizava suas próprias atividades.


O encontro de língua alemã era feito em uma parte separada do prédio.  Quando entramos no hall, fomos saudadas de forma tumultuada: "Oi, Khadija" "Como você está hoje?" "Ó, você trouxe um de seus bolos deliciosos?" "Os outros estão na cozinha!" "Maria já vai começar a aula!" Mulheres com cabelos cobertos e vestidos longos passaram por nós.  E ouvi várias vezes a saudação islâmica: "As-Salaamu Alaykum!" - "Que a paz de Deus esteja com você!"


Fui incluída nas boas-vindas amigável e beijada nas bochechas.  Convidadas são bem-vindas!  As mulheres acharam que era ótimo que alguém ousasse entrar na "toca do leão" para ver por conta própria como eram os muçulmanos.  Essa reunião parecia não ser só para muçulmanas falando alemão, mas também um grupo de contato para mulheres interessadas no Islã.  Parecia estar no lugar certo.


Realmente estávamos atrasadas.  A aula começou imediatamente.  Heide-Khadija colocou o bolo na cozinha e então entramos na sala de palestras.  A sala comprida estava coberta com tapete cinza.  Não havia mobiliário, só uma pequena prateleira na parede.  As mulheres estavam sentadas em círculo no chão.  Tinham deixado seus sapatos do lado de fora, como é costume em mesquitas e casas muçulmanas.


Mariam, a líder do grupo, havia colocado vários livros na frente dela.  Era uma mulher corpulenta com brilhantes e amigáveis olhos azuis e um lenço branco simples.  Esse dia ela falava sobre a continuidade da história como documentado no Alcorão.  Sobre os diferentes profetas e que todos trouxeram a mesma mensagem.  A aula não continha muitas novidades para mim.  O Islã reconhece a maioria dos profetas do Velho e Novo Testamento.  Alguns dos detalhes das histórias diferiam, mas o pensamento básico é sempre o mesmo.  Deus envia profetas para relembrar os povos de Sua mensagem.


Mais interessante para mim do que a aula eram as ouvintes, que estavam mais ou menos concentradas acompanhavam a aula.  "Não é surpreendente que a mensagem de Deus seja sempre esquecida?" Para algumas mulheres a informação parecia ser nova.  O que me surpreendeu? "No Alcorão existe um capítulo que coloca as histórias dos profetas em um contexto geral. Quem sabe de qual capítulo estou falando?" Havia mulheres de todas as idades, muitas de origem alemã, algumas garotas turcas, obviamente ainda na escola que sussurravam nos ouvidos umas das outras e ficavam entrando e saindo da sala. Isso distraía Mariam e então ela disse: "Se não querem ouvir, fiquem do lado de fora!" Todas as mulheres estavam cobertas.  Usavam lenços em todas as cores e nuances, simplesmente amarrados ou envoltos de maneira elaborada ou decorados com laços.  Algumas puxavam o lenço até a testa.  Outras mostravam o cabelo.  "Sempre que as pessoas tinham problemas se voltavam para Deus, e depois achavam que não precisavam mais Dele." Algumas mulheres trouxeram crianças pequenas.  Uma descobriu o interruptor de luz como um jogo engraçado e não queria brincar com mais nada.  "Por favor, alguém pode afastar a criança do interruptor de luz?" Finalmente a mãe levou a criança que protestava bem alto para a cozinha, onde ele descobriu o bolo e ficou ocupado por pelo menos quinze minutos.  Mas quando houve ligações para várias mulheres e uma menina turca quis saber quantas xícaras de chá e café devia preparar e quanto tempo levaria para terminarmos, foi o bastante para Mariam.  "Continuaremos a partir daqui semana que vem e agora tomaremos chá." Então finalmente tive uma chance para conversar com as mulheres.  Imediatamente me acolheram.  "Afinal, somos todas irmãs." "Você bebe chá ou café?" "Tem bolo!" "Então, você gostou?" Logo estávamos no meio de uma conversa animada.  Claro todas queriam saber quem eu era e o que tinha me levado a uma reunião islâmica.  Mariam falou sobre quanto tempo havia levado para que a fé dela aumentasse.  "Mas nunca me arrependi de minha decisão pelo Islã." Heide-Khadija, por outro lado, não sabia muito sobre o Islã quando se tornou muçulmana.  Mas: "Até hoje só tenho sido surpreendida de maneira positiva." O que a atraiu foi a "modo de vida islâmico saudável", a abstinência de todos os tipos de drogas.  A oração e o jejum como exercício para o corpo, mente e alma.  Mandamentos higiênicos.  Tudo isso fazia sentido para ela, como professora de biologia e esportes.

 


Mariam confirmou que as orações regulares tinham feito muito bem para as costas dela.  E então falou sobre o tempo na Turquia e tentou explicar para mim a história turca.  Um assunto sobre o qual ainda não sei muito.  Naquela época estava totalmente perdida.  Nesse dia conheci bastante mulheres.  E todas me contaram suas histórias pessoais sobre como chegaram ao Islã.

 


Hamida fez amizade com um casal turco após o divórcio e dessa forma passou a conhecer e amar o Islã.  A filha de 15 anos, Nina, havia mantido a religião cristã, embora não fosse praticante.  Tinha acompanhado a mãe na reunião.


Fatima-Elizabeth, com seus vinte e poucos anos, estudando para se tornar professora, alguns anos atrás trabalhou em um emprego temporário.  Havia trabalhado em uma fábrica lado a lado com uma muçulmana alemã.  A família de Fatima-Elizabeth era católica e ambos os pais eram instrutores religiosos.  Ficaram muito chocados quando souberam que a filha havia abraçado o Islã.  O choque havia passado durante os últimos anos e com boa vontade de ambos os lados a vida funcionava bem.


A amiga de Fatima-Elizabeth, Sabine, que veio para o Islã através do marido, não tinha tanta sorte.  O pai a expulsou da casa por causa do lenço.  Havia mães, empregadas domésticas, estudantes, uma secretária e uma assistente de laboratório dentário.  As mulheres eram solteiras, casadas, divorciadas.  Os maridos, se existissem, vinham da Turquia, Líbano, Iêmen, Marrocos e outros países.  Algumas mulheres haviam adotado um nome islâmico, outras não.  Na verdade as mulheres só tinham uma coisa em comum.  E era a religião, o Islã.  Mas isso parecia realizá-las, sim, ser o princípio orientador em suas vidas.  "O Islã é a estrutura na qual vivemos."


Naquele dia aprendi duas coisas.  Descobri que a estrutura que o Islã estabelece não é tão restrita como esperava.  Não há muçulmano padronizado.  Um muçulmano é apenas uma pessoa, que toma uma decisão por Deus.  Essas mulheres haviam abraçado o Islã.  Mas continuaram a ser elas mesmas. 


Segundo, percebi pela primeira vez que nunca se para de aprender.  Agora tinha encontrado essas mulheres que eram tão devotadas, embora não soubessem "tudo" que há para saber.  Conhecimento não é tudo.  O importante é ter uma crença firme. 


"Criamos o homem e sabemos o que a sua alma lhe confidencia, porque estamos mais perto dele do que a (sua) artéria jugular." (Alcorão 50:16)


Algumas semanas mais tarde tomei minha decisão pessoal por Deus e pelo Islã.  Depois de 2 1/2 anos de aprendizado, abracei o Islã.  O que finalmente me levou a essa etapa foi o pensamento: "Se morresse agora e me apresentasse diante de Deus, como explicaria para Ele o porquê de não ter me tornado muçulmana?" Quando não pude mais apresentar uma resposta razoável, decidi pela única coisa lógica a fazer e testemunhei: "Não há divindade exceto Allah e Muhammad é Seu mensageiro."

 

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