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James Farrell, ex-católico, EUA
Posso lembrar, ao longo de minha infância, todas as vezes que meus pais brigaram por causa de dinheiro, condições de vida e coisas do tipo. Lembro-me de viver em casas populares no lado centro-sul de Chicago com quase nada para comer. Com uma família de 10, era difícil para o meu pai sustentar a família da forma mais desejada. Meu pai era um homem trabalhador e, embora passasse a maior parte do seu tempo bebendo os rendimentos de nossa família e batendo na minha mãe, ainda amo meu pai. Meu pai é de origem irlandesa e alemã e tem um tipo de estilo de vida antiquado. Sempre que vinha para casa bêbado ou apenas aborrecido com alguma coisa, batia em mim e em meu irmão mais novo até que não tivesse mais nada para fazer. Muitas vezes não conseguia nem andar ou respirar por causa de todas as pancadas. Claro que era eu quem apanhava mais porque era mais velho e qualquer aborrecimento que meu irmão causasse, eu apanhava com ele também. Foi assim a maior parte da minha infância.
Então vieram os anos de minha adolescência. Com tudo acontecendo ao meu redor, como namoradas, bebedeiras, bares, drogas, etc., não podia me permitir ser parte daquilo. Não parecia certo. Meu irmão era um dos maiores traficantes de drogas em Chicago. Muitas vezes trazia sua droga para casa para vender nas redondezas. Sabia minha opinião sobre a ideia toda e quando saiu um dia, peguei US$ 1.000 das drogas que ele tinha guardado, joguei no vaso sanitário e dei descarga. Quando ele descobriu, juro, quis me matar e teria feito se tivesse tido a chance. Claro que era em mim que meus pais descontavam porque eu era mais velho e deveria tê-lo ensinado melhor.
Aquilo me fez perceber o quanto a vida era frágil. Não queria morrer um idiota e comecei a estudar toda e qualquer coisa. Não conseguia tirar a cara de um livro, a menos que a colocasse em outro. Vocês precisam entender algo sobre minha família: eram muito competitivos uns com os outros. Quando viam uma pessoa progredindo, queriam pará-la e impedi-la de seguir em frente. Meus pais tinham uma mistura de sentimentos em relação aos meus estudos pessoais. Estavam preocupados que eu pudesse sofrer lavagem cerebral ou seguir algum culto. Estavam certos em uma coisa, porque me tornei um nazista em 1994. Amava o fato de Hitler ter tido milhares de pessoas sob seu controle. Fazia com que me sentisse importante... como se fosse alguém. Meu pai estava satisfeito com a ideia toda. Nos anos 1960 quando Martin Luther King Jr. estava empolgando a todos com seu "sonho", meu pai planejava se livrar de todos os negros na área de Chicago. De fato, quando Martin Luther King Jr. marchou pelo Marquette Park e o Sherman Park no lado sudoeste, meu pai formou uma gangue que não apenas expulsava negros, mas também provocou uma gerra de brancos contra negros. Naquele dia meu pai atingiu Martin Luther King no nariz com um tijolo e até hoje se vangloria disso. Logo após esse incidente Charles Manson e sua família maluca começaram sua missão secreta. Era outro que admirava e queria ser igual. Enquanto estava com os nazistas havia testemunhado os anos 1960 novamente. Estava lá quando organizaram o ataque a um menino negro de 11 anos andando em uma vizinhança branca em Chicago (por volta de 1997). Eles o teriam matado, mas queriam deixar um sinal. Ao ver essas coisas, sabia que não me encaixava mais.
Em 1995 encontrei a primeira garota que posso dizer que amei. Mesmo tendo uma oportunidade perfeita de fazer o que quisesse com ela, não fiz. Não podia me permitir ter intimidade completa com alguém com quem não estava casado. Alguns meses depois propus a ela e por pouco mais de 3 anos continuamos noivos sem sermos ativos sexualmente. Ambos entendíamos que mais problemas podiam ocorrer. Com essa mulher fui capaz de me tornar quem queria ser. Estudei muito e comecei a perceber minha vida e seu propósito. Sabia que algo estava faltando. Sabia e não conseguia identificar, mas não desistia de buscar.
Quanto mais lia, mais meus pais eram deixados de lado. Como havia mencionado, minha família era muito competitiva e começaram a me atacar mentalmente dizendo como eu era um mau filho e ingrato pelo abrigo e alimento que me davam. Meus pais nunca concluíram o segundo grau. Na verdade, não concluíram o fundamental. Portanto, a educação deles obviamente era limitada. Tudo que sabiam era o que viam na TV e no comportamento das pessoas. Tenho que admitir que os meus pais terem me educado da maneira que fizeram, honro a disciplina deles e sou absolutamente grato pelo que fizeram por mim. Forçaram-me a tornar-me um homem. Tive meu primeiro emprego com a idade de 12 anos.
Com a idade de 13 anos trabalhava em tempo integral ganhando tanto quanto eles. Com a idade de 16 anos tive meu primeiro apartamento. Cozinhava, limpava, lavava minha própria roupa, fazia compras e estava me preparando para casar. Do ponto de vista de que meus pais julgavam as pessoas por suas ações, concordava com eles e ainda concordo. Mas isso me fez odiar os muçulmanos e o Islã. Juro que realmente odiava os muçulmanos de um jeito que você não acreditaria. Muitos dizem que é devido a mídia, bem, sim, é uma parte da loucura, mas na maior a falha é dos próprios muçulmanos. Os muçulmanos são quem têm destruído a reputação do Islã a um ponto que os outros nos odeiam e nem sabemos mais no que acreditamos. É triste, mas verdadeiro. Tenho que dizer que a maioria dos imigrantes que entram nesse país para ganhar dinheiro são os responsáveis principais por estragar a verdadeira imagem do Islã.
Em 1997 minha noiva havia me dado um Alcorão de presente, simplesmente porque eu adorava ler. Só para mostrar como eu odiava os muçulmanos, briguei com ela e por causa dessa briga, nos separamos por um bom tempo. Por fim o peguei e comecei a lê-lo. Posso lembrar-me daquele dia. A casa estava muito limpa, o ar estava leve e doce e a iluminação suave e perfeito para a leitura. Era a tradução de Abdullah Yusuf Ali. Li sua introdução, as primeiras 3 páginas e comecei a chorar como um bebê. Chorei sem parar e não consegui me controlar. Sabia que era o que estava procurando e queria acabar comigo por não ter encontrado antes. Sabia em meu coração o quanto era mágico. Não era o Islã que conhecia. Não era a coisa árabe que me ensinaram a pensar que era suja. Era minha vida envolta em poucas páginas. Cada página contava minha vida. Estava lendo minha alma e me sentia bem, mas arrependido. Depois disso fiz as pazes com minha noiva e discutimos o assunto de forma madura. Logo depois ambos aceitamos o Islã e estávamos dispostos a viver nossas vidas como muçulmanos, mesmo que fosse separadamente.
Quando meus pais descobriram foi um inferno. Meu pai ameaçou me matar. Disse: "Você nasceu católico e, que Deus me ajude, o farei morrer católico!" A reação de minha mãe foi semelhante. Queria ir para a universidade mais que tudo, queria uma educação formal. Então consegui um emprego e preparei o caminho para avançar minha educação na universidade. Naquele ponto meus pais começaram a ficar com raiva de minha conversão e minha mãe me colocou para fora de casa, o que fez com que morasse nas ruas por 6 meses. Comi de latas de lixo e dormi nas noites mais frias durante as nevascas de 1999. Caminhava quilômetros para estar com muçulmanos. Era expulso por policiais por entrar em áreas habitadas por negros para frequentar a oração de Jummah. Jogavam pedras, cuspiam, assediavam, etc. Só queria estar com muçulmanos.
Depois de algum tempo encontrei um amigo que fez um acordo comigo. Disse: "Se puder construir uma mesquita para nós em nossa loja, você pode ficar lá até encontrar um lugar." Concordei. A loja tinha uma área no segundo andar, em torno de 186m2 para estocagem. Todos os dias passava horas removendo lixo e suprimentos do inventário. Dentro de um mês tinha utilizado metade do espaço, construído uma parede, acrescentado uma janela, instalado uma porta, colocado carpete, pintado e aberto a primeira mesquita em uma loja na cidade de Chicago. Tinha aprendido carpintaria com meu tio. Foi meu primeiro emprego em tempo integral.
Em torno de 6 meses depois mantinha um bom emprego e fui morar com dois amigos. Minha antiga noiva não estava mais comigo. Tínhamos concordado em viver nossas vidas como muçulmanos, não como tolos. Nunca tinha amado ninguém quanto eu a amava. Mas ser muçulmano era muito mais importante que estar com uma pessoa. Em 1999 tinha me tornado o presidente da Associação de Estudantes Muçulmanos em minha universidade. Frequentava Halaqat (círculos de conhecimento) diariamente, ia a seminários, tinha um mentor e construído uma relação com meus ex-inimigos, os muçulmanos.
Em 2000 estava a caminho do Hajj. Uma experiência que nunca esquecerei. Tinha visitado Medina e outras áreas vizinhas. Uma coisa que tinha constatado no Hajj foi a verdade sobre Deus e a história do Islã. Só podemos voltar no tempo e nos apoiar no que os livros nos contam sobre pessoas e lugares. Em Meca e Medina tinha visto com meus próprios olhos a mágica da grande história do Islã. Era como se estivesse vivendo a história. Senti o hadith ganhar vida. Vi os sahaba nos topos das montanhas. Senti o cheiro da batalha de Badr. Experimentei o ar que o profeta um dia respirou. Senti o Islã real que cada um de nós está destruindo.
Embora seja sozinho, sem uma esposa ou família para chamar de minha, sei que o Islã é vida, não um estilo de vida, mas a própria vida. Entendo que o Islã não é apenas uma religião, porque religião pode ser pluralizada. Entendo que o Islã não pode ser julgado pelas ações dos muçulmanos e os muçulmanos só podem ser julgados por meio do Islã. Recebi uma grande oportunidade de me tornar quem sou e quem sou não é mais ou menos importante que os demais. Recebi a oportunidade de conseguir o meu emprego dos sonhos. Sempre quis trabalhar com trabalho humanitário e ajudar as pessoas e, embora o meu passado contradiga o fato, é verdade. Agora trabalho para a Global Relief Foundation. É onde tenho estado por mais de um ano.
Por mais que os encha de palavras sobre minha vida, nada pode explicar meu coração. Mencionei apenas alguns dos muitos obstáculos que tenho enfrentado. Sei que muitos de vocês têm enfrentado muito mais. Meu propósito é dizer que entendo as dificuldades que muitos estão passando. Waslamu Alaykum.