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Felicidade no Islã (parte 1 de 3): Conceitos de felicidade

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1824 2015/02/01 2024/11/17

Embora a felicidade seja talvez uma das coisas mais importantes na vida, a ciência ainda não consegue explicar muito a respeito.  Seu conceito é elusivo.  É uma ideia, emoção, virtude, filosofia, ideal ou apenas está programada nos genes?  Não há uma definição acordada sobre ela e ainda assim todos parecem estar vendendo felicidade esses dias - traficantes, companhias farmacêuticas, Hollywood, fabricantes de brinquedos, gurus de autoajuda e, claro, Disney, o criador do lugar mais feliz da Terra.  A felicidade pode realmente ser comprada?  A felicidade é alcançada pela maximização do prazer, conquista da fama e fortuna ou vivendo uma vida de lazer ilimitado?  A série de artigos explorará de maneira breve a evolução da felicidade no pensamento ocidental, seguida pelo entendimento cultural atual no ocidente.  Finalmente, serão discutidos o significado e alguns meios para alcançar a felicidade no Islã.

Evolução da felicidade no pensamento ocidental

A ideia cristã de felicidade foi baseada em um dito relatado de Jesus:

“... Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.” (João 16:22)

A ideia cristã de felicidade foi desenvolvida ao longo dos séculos e, por sua vez, apoiava-se em uma teologia do pecado que, como explicou Santo Agostinho na Cidade de Deus, ensinava que por causa da transgressão original de Adão e Eva no jardim do Éden, a verdadeira felicidade era “intangível em nossa vida presente.” [1]

Em 1776, Thomas Jefferson, resumindo um bom século de reflexão sobre o assunto na Europa e América, considerou a “busca da felicidade” uma verdade “auto evidente”.  Por essa época a verdade da felicidade tinha sido declarada com tanta frequência e de forma tão confiante que, para muitos, dificilmente precisaria de evidência.  Era, como Jefferson disse, auto evidente.  Assegurar a “maior felicidade para o maior número” tinha se tornado o imperativo moral do século.  Mas o quão “auto evidente” era a busca da felicidade?  Era, de fato, tão óbvio que a felicidade era nosso fim naturalmente pretendido?  Os cristãos confessavam que os seres humanos buscavam a felicidade durante sua peregrinação terrena, mas continuavam céticos sobre sua obtenção.  O próprio Jefferson era pessimista se a busca um dia levaria a uma conclusão satisfatória.  “Felicidade perfeita... nunca foi pretendida pela Divindade como sendo o destino de suas criaturas”, especificou ele em uma carta de 1763, acrescentando de maneira sensata que mesmo “o mais afortunado de nós, em nossa jornada pela vida, frequentemente se vê com calamidades e desgraças que podem nos afligir tremendamente.” [2] Para “fortificar nossas mentes” contra esses ataques, concluiu ele, “deve ser um dos principais estudos e empreendimentos de nossas vidas.”

Enquanto que no século 5 Boethius podia afirmar que “Deus é a felicidade em si”,[3] e por volta de meados do século 19 a fórmula foi revertida para “Felicidade é Deus.”  A felicidade terrena emergiu como o ídolo dos ídolos, o significado da vida moderna, a fonte de aspiração humana, o propósito da existência, o porquê e o por isso.  Se a felicidade não estivesse, como disse Freud, ‘no plano da Criação’,[4] havia aqueles prontos para alterar o trabalho do Criador fabricando-a, consumindo-a e exportando-a como democracia e economia de livre mercado (materialismo).  Como o filósofo Pascal Bruckner observou, “a felicidade é o único horizonte de nossas democracias contemporâneas.” Como uma religião substituta, o materialismo transferiu Deus para o shopping.

Felicidade na cultura ocidental

Em nossa cultura é comum acreditar que a felicidade é alcançada quando se fica rico, poderoso ou popular.  Os jovens querem ser ídolos populares, os velhos sonham em ganhar na loteria.  Geralmente buscamos a felicidade removendo todo o estresse, tristeza e irritações.  Para alguns, a felicidade reside em terapias para alteração de humor. Eva Moskowitz, uma historiadora, dá algumas ideias sobre a obsessão americana com o evangelho da terapia: “Hoje essa obsessão não conhece limites... existem mais de 260 [tipos diferentes] de programas de 12 passos na América.” [5]

Uma razão por que temos tanta dificuldade em alcançar a felicidade é não termos ideia do que ela seja.  Consequentemente, fazemos maus julgamentos na vida.  Um conto islâmico ilustra a relação de julgamento com a felicidade.

“Ó grande sábio Nasrudin,” disse

o aluno ansioso, “devo fazer a você uma

pergunta muito importante, a resposta

que todos buscamos: Qual é o

segredo para alcançar a felicidade?”

 

Nasrudin pensou por um tempo,

e então respondeu.  “O segredo da

felicidade é um bom julgamento.”

 

“Ah”, disse o aluno.  “Mas como

alcançamos o bom julgamento?

 

“Da experiência”, respondeu

Nasrudin.

 

“Sim”, disse o aluno.  “Mas como

alcançamos a experiência?

 

“Mau julgamento.”

 

Um exemplo de nosso bom julgamento é saber que os confortos materiais por si só não levam a uma felicidade duradoura.  Ao alcançarmos essa conclusão através de nosso bom julgamento, não nos refugiamos em nossos confortos.  Continuamos a desejar uma felicidade que parece fora de alcance.  Ganhamos mais dinheiro achando que é o caminho para nos tornarmos felizes e no processo negligenciamos nossa família.  A maior parte dos grandes eventos que sonhamos dão menos sustentação à felicidade do que esperávamos.  Além de ter menos felicidade do que esperávamos, frequentemente não sabemos exatamente o que queremos, o que nos fará feliz ou como consegui-la.  Julgamos mal.

Felicidade duradoura não é “construída”.  Imagine se alguém pudesse estalar os dedos e lhe dar fama, fortuna e lazer.  Você seria feliz?  Ficaria eufórico, mas por um curto prazo.  Gradualmente se adaptaria a sua nova circunstância e a vida retornaria à sua combinação normal de emoções.  Estudos mostram que ganhadores da loteria depois de alguns meses não são mais felizes que uma pessoa comum!  Para recuperar a alegria, você precisaria de algo ainda mais empolgante.

Considere, também, como nós a “construímos”.  Em 1957 a nossa renda por pessoa, expressa em dólares de hoje, era menos que $8.000.  Hoje é $16.000.  Com a renda dobrada, temos agora o dobro dos bens materiais que o dinheiro pode comprar - incluindo o dobro de carros por pessoa.  Também temos microondas, TVs coloridas, VCRs, secretárias eletrônicas e sapatos esportivos de marca que valem $12 bilhões por ano.

Somos mais felizes?  Não.  Em 1957, 35 por cento dos americanos disseram ao Centro nacional de pesquisa de opinião que eram “muito felizes”.  Em 1991, apenas 31 por cento disse o mesmo.[6] Enquanto isso, as taxas de depressão inflaram.

O Profeta da Misericórdia de Deus disse:

“A verdadeira riqueza não vem da posse de muita riqueza, mas do enriquecimento da alma.” (Saheeh Al-Bukhari)



Notas de rodapé:

[1] City of God, (XIX.4-10). (https://www.humanities.mq.edu.au/Ockham/y6705.html).

[2] Notes for an Autobiography, 1821.

[3] De Consol. iii.

[4] Civilization and Its Discontents, (1930).

[5] Na terapia confiamos: A obsessão da América com a autorrealização

[6] Center for a New American Dream, 2000 Annual Report. (https://www.newdream.org/publications/2000annualreport.pdf)

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