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Raphael Narbaez Jr., Ministro das Testemunhas de Jeová, EUA (parte 1 de 2)

1566 2015/07/05 2024/11/04

Um latino de quarenta e dois anos, Raphael é um comediante e palestrante com base em Los Angeles.  Nasceu no Texas onde frequentou sua primeira reunião das Testemunhas de Jeová aos seis anos.  Deu seu primeiro sermão sobre a Bíblia [logo após os 13 anos], dirigiu sua própria congregação aos vinte e foi designado para uma posição de liderança entre as 904.000 Testemunhas de Jeová nos Estados Unidos.  Mas trocou sua Bíblia pelo Alcorão depois ter feito uma visita corajosa à mesquita local.

Em 1 de novembro de 1991 abraçou o Islã, trazendo para a comunidade muçulmana as habilidades organizacionais e de palestrante que desenvolveu entre as Testemunhas de Jeová.  Fala com a urgência de um novo convertido, mas um que pode fazer os muçulmanos imigrantes rirem de si mesmos.

Contou sua história interpretando vários personagens.

Lembro vividamente de estar em uma discussão onde estávamos todos sentados na sala de estar de meus pais e havia algumas Testemunhas de Jeová.  Estavam falando sobre: “É Armageddon! O fim dos tempos! E Cristo está chegando! E você sabe que granizos do tamanho de carros cairão! Deus usará todos os tipos de coisas para destruir esse sistema malévolo e remover os governos! E a Bíblia fala da terra se abrindo! Engolirá quadras inteiras da cidade!”

Estou morrendo de medo!  E então minha mãe se voltou: “Viu o que acontecerá se não for batizado e não fizer a vontade de Deus? A terra o engolirá ou um desses enormes granizos o atingirá na cabeça, o derrubará e você nunca voltará a existir. Terei que ter outro filho.”

Não ia correr o risco de ser atingido por um daqueles enormes granizos.  Então fui batizado.  E claro as Testemunhas de Jeová não acreditam em salpicar água.  Elas o submergem completamente, o mantém lá por um segundo, e então o trazem de volta.

Fiz isso com a idade de 13 anos, em 7 de setembro de 1963, em Pasadena, Califórnia, em Rose Bowl.  Foi uma grande assembléia internacional.  Tínhamos 100.000 pessoas.  Fizemos toda a viagem desde Lubbock, Texas.

Eventualmente comecei a fazer palestras maiores - dez minutos na frente da congregação.  Um servidor me recomendou dar as palestras de uma hora que são feitas aos domingos quando convidamos o público em geral.  Geralmente reservavam esses sermões para os mais velhos da congregação.

[Em um tom autoritário:] “Certamente ele é jovem. Mas pode dar conta. É um bom garoto cristão. Não tem vícios, obedece aos pais e parece ter um conhecimento muito bom da Bíblia.”

Então, com a idade de dezesseis comecei a dar palestras de uma hora na frente de congregações inteiras.  Primeiro fui designado para um grupo em Sweetwater, Texas, e então, eventualmente, em Brownfield, Texas, obtive minha primeira congregação.  Com a idade de vinte anos, tinha me tornado o que eles chamam de um ministro pioneiro.

As Testemunhas de Jeová têm um programa de treinamento muito sofisticado e também têm um sistema de cotas.  Você tem que dedicar de dez a doze horas por mês à pregação porta-a-porta.  É como um gerenciamento de vendas.  A IBM não tem nada em vista desses caras.

Então, quando me tornei um ministro pioneiro, dedicava a maior parte do meu tempo fazendo ministério porta-a-porta.  Tinha que cumprir umas 100 horas por mês e tinha que ter sete estudos bíblicos.  Comecei a fazer palestra em outras congregações.  Comecei a ter muita responsabilidade e fui aceito em uma escola no Brooklyn, Nova Iorque, uma escola de elite que as Testemunhas de Jeová mantêm para os melhores entre os melhores, a elite de um por cento.  Mas não fui.

Algumas coisas não faziam mais sentido para mim.  Por exemplo, o sistema de cotas.  Parecia que toda vez que queria dobrar uma esquina e alcançar outra posição de responsabilidade, tinha que fazer essas coisas materiais seculares para provar minha religiosidade.  Era algo como se cumprir toda a sua cota esse mês, Deus ama você.  Se não cumprir suas cotas no mês seguinte, Deus não ama você.   Não fazia muito sentido.  Um mês Deus me ama e no outro não?

Criticávamos a Igreja Católica porque tinham um homem, um padre, para quem confessavam.  E dizíamos “Não se deve ir a um homem para confessar seus pecados! Seu pecado é contra Deus!” E então íamos ao Conselho de Anciãos.  Confessávamos nossos pecados para eles, eles o deixavam na linha e diziam [Ancião como operador do telefone:] “Espere um minuto. . . O que acha, Senhor?  Não? . . . Ok, sinto muito, tentamos ao máximo mas você não está arrependido o suficiente.  Seu pecado é muito grande e ou você perde sua associação na igreja ou será suspenso."

Se o pecado é contra Deus, não deveríamos ir diretamente a Deus pedir misericórdia?

Provavelmente o que me despertou foi que notei que eles liam suas Bíblias cada vez menos.  As Testemunhas de Jeová têm livros para tudo que são impressos pela Torre de Vigia.  As únicas pessoas no planeta inteiro que sabem como interpretar a escritura bíblica corretamente são aquele grupo de homens, aquele comitê no Brooklyn, que diz às Testemunhas de Jeová no mundo todo como se vestirem, como falar, o que dizer, o que não dizer, como aplicar a Escritura e como será o futuro.  Deus disse a eles para que eles possam nos dizer.  Gostava dos livros.  Mas se a Bíblia é o livro do conhecimento e se contém as instruções de Deus, bem, não deveríamos obter nossas respostas da Bíblia?  O próprio Paulo disse para descobrir por si mesmo o que é uma palavra aceitável e verdadeira de Deus.  Não deixem homens encherem seus ouvidos.

Comecei dizendo: “Não se preocupe tanto com o que a Torre de Vigia diz – leia a Bíblia sozinho.”  As orelhas começaram a coçar.

[Sotaque arrastado de um velho sulista:] “Acho que temos um apóstata aqui, Juiz. É. Acho que tá faltando alguma coisa nesse garoto.”

Até meu pai disse: “É melhor se cuidar, rapazinho, são os demônios falando.  São os demônios tentando entrar e causar divisão.”

Eu disse: “Pai, não são os demônios.  As pessoas não precisam ler tanto essas outras publicações.  Podem encontrar suas respostas com oração e na Bíblia.”

Espiritualmente eu já não me sentia bem.  Então em 1979, sabendo que não poderia progredir, saí, desapontado e com um gosto amargo em minha boca, porque durante toda minha vida tinha posto minha alma, meu coração e minha mente naquela igreja.  Esse era o problema.  Não tinha posto em Deus.  Tinha posto em uma organização feita pelo homem.

Não posso ir para outras religiões.  Como um Testemunha de Jeová, tinha sido treinado, através das Escrituras, a mostrar que estavam todas erradas.  Que idolatria é ruim.  A Trindade não existe.

Sou como um homem sem uma religião.  Não era um homem sem um Deus.  Mas para onde podia ir?

Em 1985 decidi vir para Los Angeles, entrar no show de Johnny Carson e deixar minha marca como um grande comediante e ator.  Sempre senti que tinha nascido para algo.  Não sabia se ia encontrar a cura do câncer ou me tornar um ator.  Continuei orando e isso se tornou frustrante depois de um tempo.

Então fui para a Igreja Católica perto de minha casa e tentei.  Lembro que na quarta-feira de cinzas tinha aquela cruz de cinzas na minha testa.  Estava tentando tudo que podia.  Fui por dois ou três meses e simplesmente não pude ir mais, cara.  Era:

Levantar.  Sentar.

Levantar.  Sentar.

Ok, ponha sua língua para fora.

Você faz muito exercício.  Acho que perdi mais de 2 kg.  Mas isso é tudo.  Agora estou mais perdido do que nunca.

Mas nunca passou pela minha cabeça que não havia um Criador.  Tenho Seu número de telefone, mas a linha está sempre ocupada.  Estou fazendo minhas pequenas tomadas de filme.  Um filme chamado Intenção Fatal.  Um comercial de telefone em Chicago.  Um comercial da Exxon.  Alguns comerciais para bancos.  Enquanto isso faço construções.

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