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BIOGRAFIA DE MUHAMMAD (PARTE 7 DE 12): UMA NOVA ETAPA EM MEDINA

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552 2019/06/20 2024/11/17
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A principal refeição do Profeta Muhammad usualmente era mingau cozido com tâmaras e leite, sua única outra refeição do dia era tâmaras e água; mas ele frequentemente ficava com fome, e às vezes até colocava pedras sobre seu estômago para aliviar seu desconforto.  Um dia uma mulher lhe deu um manto – algo que ele precisava muito – mas na mesma noite alguém pediu o manto para fazer uma mortalha e ele prontamente o deu como caridade.  Os que tinham algum excedente traziam-lhe comida, mas parecia que ele nunca conseguia mantê-la por tempo suficiente para prová-la, já que sempre havia alguém em necessidade maior.  Com a força física diminuída – agora com cinquenta e dois anos – ele lutava para construir uma nação baseada na verdadeira religião do Islã a partir do variado sortimento de pessoas que Deus lhe deu como matéria-prima.


Por força do caráter combinado com extraordinária habilidade diplomática, o Profeta Muhammad começou a reconciliar as facções em luta de Medina.  Com seus outros companheiros também emigrando, era de suma importância um sistema de suporte para os recém-chegados.  Para unir os ‘emigrantes’ (Muhājirūn) com os muçulmanos locais, os ‘ajudantes’ (Ansār), ele estabeleceu um sistema de relações pessoais: cada ‘ajudante’ tomava um ‘emigrante’ como seu irmão, para ser tratado como tal sob todas as circunstâncias e para participar da herança junto com membros da família natural.  Com poucas exceções os ‘emigrantes’ tinham perdido tudo que possuíam e estavam completamente dependentes de seus novos irmãos.  Os Ajudantes às vezes chegavam a ponto de dar a seus irmãos Emigrantes metade do que possuíam em casas, bens, terras e pomares.  Tal era o entusiasmo dos Ajudantes em compartilhar tudo com seus irmãos na fé que dividiam tudo em duas partes para alocar sua porção.  Na maioria dos casos, tentavam dar aos Emigrantes a porção mais justa de sua propriedade.


Se é tentado a descrever como um ‘milagre’ o fato dessa situação não ter causado qualquer ressentimento entre aqueles que de forma tão repentina eram obrigados a incluir pessoas totalmente estranhas em suas famílias.   Esse laço de irmandade quebrou os de linhagem, cor, nacionalidade e outros fatores que antes eram considerados como um padrão de honra.  Os únicos laços que importavam agora eram religiosos.   Raramente o poder da fé em mudar os homens foi demonstrado de forma mais clara.


Os muçulmanos de Meca, entretanto, não tinham esquecido suas antigas habilidades.  Quando seu novo irmão lhe disse: ‘Ó mais pobre dos pobres, como posso ajudá-lo? Minha casa e meus fundos estão a seu dispor!’, um ‘emigrante’ respondeu: ‘Ó mais gentil dos amigos gentis, apenas me mostre o caminho para o mercado local. O resto virá.’ Diz-se que esse homem começou vendendo queijo e manteiga e logo ficou rico o suficiente para pagar o dote de uma moça local e, no devido curso, foi capaz de equipar uma caravana de 700 camelos.


Esse tipo de empreendimento era encorajado, mas existiam também aqueles que não tinham habilidade para fazê-lo e nem tinham família ou propriedade.  Passavam o dia na mesquita e à noite o Profeta os colocava com vários indivíduos dos Ajudantes.  Ficaram conhecidos como ‘Ahl us-Suffa.’ Alguns eram alimentados na própria mesa do Profeta, quando havia algo, e com cevada tostada da comunidade.


No primeiro ano desse reino em Yathrib o Profeta fez uma aliança solene de obrigação mútua entre seu povo e as tribos judaicas de Medina e áreas vizinhas, na qual ficou acordado que teriam status igual como cidadãos de um estado e plena liberdade religiosa, e que defenderiam uns aos outros se fossem atacados.


Mas sua idéia de um Profeta era a de um que lhes daria domínio, e um profeta judeu, não um árabe.  Os judeus também tinham lucrado muito com a rivalidade entre as tribos árabes, uma vez que era através dessa instabilidade da região que tinham conseguido o predomínio no comércio e mercadorias.  A paz entre as tribos de Medina e áreas vizinhas era uma ameaça aos judeus.


Além disso, entre os habitantes de Medina existiam aqueles que se ressentiam dos recém-chegados, mas que mantinham a paz por enquanto.  O mais poderoso deles, Abdullah ibn Ubayy ibn Salool, estava extremamente ressentido com a chegada do Profeta, uma vez que ele era o líder de fato de Yathrib antes do Profeta.  Ele aceitou o Islã como simples formalidade, embora mais tarde viesse a trair os muçulmanos como o líder dos ‘hipócritas.’


Devido a esse ódio comum em relação ao Profeta, aos muçulmanos, e à nova situação de Yathrib, a aliança entre os judeus e os ‘hipócritas’ de Medina era quase inevitável.  Ao longo da história dos muçulmanos em Medina, eles tentaram seduzir os seguidores da nova religião, conspirando e tramando constantemente contra eles.  Devido a isso, existe menção frequente dos judeus e hipócritas nos capítulos de Medina do Alcorão.


A Qibla

A Qibla (a direção para a qual os muçulmanos se viram quando oram) até esse ponto tinha sido Jerusalém.  Os judeus imaginavam que a escolha implicava uma inclinação em relação ao Judaísmo e que o Profeta precisava de sua instrução.  O Profeta queria que a Qibla fosse mudada para a Caaba.  O primeiro lugar na terra construído para a adoração de Deus, e reconstruído por Abraão.  No segundo ano depois da migração, o Profeta recebeu o comando para mudar a Qibla de Jerusalém para a Caaba em Meca.  Uma porção inteira da Surata Al-Bácara se refere a essa controvérsia judaica.


As Primeiras Expedições

A primeira preocupação do Profeta como governante era estabelecer adoração pública e formular a constituição do Estado: mas ele não esqueceu que os Coraixitas tinham jurado dar fim à sua religião.  Enfurecidos porque o Profeta tinha tido sucesso em migrar para Medina, eles aumentaram sua tortura e perseguição aos muçulmanos que ficaram para trás em Meca.  Suas tramas maléficas não ficaram nisso.  Também tentaram fazer alianças secretas com alguns politeístas de Medina, como Abdullah ibn Ubayy anteriormente mencionado, ordenando que ele matasse ou expulsasse o Profeta.  Os Coraixitas com frequência enviavam mensagens ameaçadoras para os muçulmanos de Medina alertando-os de sua aniquilação, e tantas notícias sobre conspirações e tramas chegaram ao Profeta que ele pediu o posicionamento de guardas ao redor de sua casa.  Foi nessa época que Deus deu permissão aos muçulmanos para lutar contra os descrentes.


Por treze anos tinham sido pacifistas estritos.  Agora, entretanto, várias expedições pequenas foram enviadas, lideradas pelo próprio Profeta ou por algum outro dos emigrantes de Meca com o propósito de fazer um reconhecimento das rotas que levavam até Meca, e também formar alianças com outras tribos.  Outras expedições eram lideradas para interceptar algumas caravanas retornando da Síria em rota para Meca, uma forma dos muçulmanos fazerem pressão econômica sobre os Coraixitas e acabar seu assédio dos muçulmanos, tanto em Meca quanto em Medina.  Poucas dessas expedições resultaram em batalha, mas através delas os muçulmanos estabeleceram sua nova posição na Península Árabe, a de que não eram mais um povo fraco e oprimido, mas ao contrário que sua força tinha crescido e eram agora um poder formidável nada fácil de lidar.

 

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