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Por que Uso Hijab?

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1860 2013/11/13 2024/11/17

Provavelmente não me encaixo na noção preconcebida de uma “rebelde”.  Não tenho tatuagens visíveis e nenhum piercing.  Não possuo uma jaqueta de couro.  De fato, quando a maioria das pessoas olha para mim, primeiro pensam algo usualmente ligado à “mulher oprimida”.  Os indivíduos corajosos que tiveram a coragem de me perguntar sobre a forma como me visto geralmente têm perguntas do tipo: “Seus pais fazem você usar isso?” ou “Você não acha isso injusto?”

Há um tempo atrás, duas garotas de Montreal foram expulsas da escola por se vestirem como eu.  Parece estranho que um pedaço de tecido possa causar tamanha controvérsia.  Talvez o temor de que eu esteja escondendo uma Uzi debaixo dele!  Claro, a questão é mais do que um mero pedaço de tecido.  Sou uma muçulmana que, como milhões de outras muçulmanas no globo, escolhe usar o hijab.  E o conceito de hijab[1], contrário à opinião popular, é na verdade um dos aspectos mais fundamentais de conceder poder à mulher.

Quando me cubro eu torno virtualmente impossível que me julguem de acordo com a minha aparência.  Não posso ser categorizada por causa do meu poder de atração ou falta dele.

Compare isso com a vida na sociedade de hoje: estamos constantemente nos avaliando com base em nossas roupas, jóias, cabelos e maquiagem.  Que tipo de profundidade pode haver em um mundo como esse?  Sim, eu tenho um corpo, uma manifestação física sobre essa terra.  Mas é um recipiente de uma mente inteligente e uma personalidade forte.  Não é para o observador olhar com desejo ou usar em anúncios para vender de tudo, de cerveja a carros!

Por causa da superficialidade do mundo em que vivemos, as aparências são tão enfatizadas que o valor do indivíduo não conta para quase nada.  É um mito que as mulheres na sociedade de hoje são liberadas!  Que tipo de liberdade pode haver quando uma mulher não pode andar na rua sem que todo o aspecto de seu ser físico seja “checado”?

Quando uso o hijab me sinto segura de tudo isso.  Posso ter certeza de ninguém está me olhando e fazendo suposições sobre meu caráter a partir do comprimento da minha saia.  Existe uma barreira entre eu e aqueles que me explorariam.  Sou primeiro e acima de tudo um ser humano, igual a qualquer homem, e não vulnerável por causa de minha sexualidade.

Uma das verdades mais tristes de nosso tempo é a questão do mito da beleza e da autoimagem feminina.  Ao ler revistas populares para adolescentes, pode-se encontrar instantaneamente que tipo de corpo está na moda e qual não está.  E se você tem o tipo “errado” de corpo, bem,então, você terá que mudá-lo, não é mesmo?  Afinal, não há meio de você estar acima do peso e ainda ser bonita.

Olhe para qualquer anúncio.  É uma mulher sendo usada para vender o produto?  Que idade ela tem?  Ela é bonita?  O que ela está vestindo?  Na maioria das vezes a mulher terá pouco mais de 20 anos, será mais alta, mais magra e mais bonita que a média e estará vestida com pouca roupa.   Por que permitimos que nos manipulem dessa forma?

Quer a mulher que nasceu nos anos 90 acredite ou não, ela está sendo forçada em um molde.  Está sendo coagida a se vender, a se comprometer.  É por isso que temos meninas de 13 anos enfiando seus dedos na garganta e adolescentes acima do peso se enforcando.

Quando as pessoas me perguntam se me sinto oprimida, posso honestamente dizer que não.  Tomei essa decisão de livre e espontânea vontade.  Gosto de estar em controle da forma como as pessoas me percebem.  Gosto do fato de não dar a ninguém nada para olhar e que me liberei da escravidão do pêndulo da indústria da moda e de outras instituições que exploram as mulheres.

Meu corpo é da minha conta.  Ninguém pode me dizer que aparência devo ter ou se sou ou não bonita.  Sei que mereço mais que isso.  Também sou capaz de dizer “não” confortavelmente às pessoas que me perguntam se acho que minha sexualidade está sendo reprimida.   Assumi o controle da minha sexualidade.  Sou grata por não estar condenada a tentar perder/ganhar peso ou tentar encontrar o tom de batom exato que combina com minha cor de pele.  Fiz escolhas sobre minhas prioridades e essas não estão entre elas.

Então, da próxima vez que me vir, não olhe para mim de forma solidária.  Não estou sob coação ou sou uma escrava adoradora de homens que veio daqueles bárbaros desertos árabes!  Fui liberada.

 

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