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Margaret Marcus, Ex-Judia, EUA (parte 2 de 5)

1295 2015/05/20 2024/12/04

Foi na aula do professor Katsh que encontrei Zenita, a garota mais fascinante e incomum que encontrei.  A primeira vez que entrei na aula do professor Katsh olhei ao redor na sala procurando uma mesa vazia para sentar e encontrei dois lugares vazios. Em um deles havia três volumes belamente encadernados da tradução para o inglês e comentários de Yusuf Ali do Alcorão Sagrado.  Sentei justo ali, queimando de curiosidade para descobrir a quem esses volumes pertenciam.  Pouco antes da aula do rabino Katsh começar, uma garota alta e esguia, com uma complexão pálida emoldurada por um espesso cabelo castanho escuro sentou próximo a mim.  A aparência dela era tão peculiar que pensei que fosse uma estudante estrangeira da Turquia, Síria ou algum outro país do Oriente Próximo.  A maioria dos outros estudantes eram rapazes usando o chapéu preto dos judeus ortodoxos, que queriam tornar-se rabinos.  Éramos as únicas garotas na turma.  Quando deixávamos a biblioteca naquela tarde, ela se apresentou a mim.  Nascida em uma família judia ortodoxa, os pais dela tinham migrado da Rússia para a América poucos anos antes da Revolução de Outubro em 1917, fugindo de perseguição.  Notei que minha nova amiga falava inglês com o cuidado de um estrangeiro.  Ela confirmou essas especulações, dizendo que como a família e amigos dela só falavam ídiche entre eles, ela não tinha aprendido inglês até começar a frequentar a escola pública.  Contou-me que seu nome era Zenita Liebermann, mas recentemente, para tentarem se americanizar, os pais tinham mudado o nome de “Liebermann” para “Lane.” Apesar de ser detalhadamente instruída em hebraico pelo pai enquanto crescia e também na escola, disse que estava agora passando todo seu tempo livre estudando árabe.  Entretanto, sem qualquer aviso prévio Zenita largou a aula e, embora eu continuasse a frequentar todas as aulas até o fim do curso, Zenita nunca retornou.  Meses se passaram e tinha quase esquecido sobre Zenita quando repentinamente ela me chamou e implorou para encontrá-la no Museu Metropolitano e ir com ela a uma exposição especial de caligrafia árabe e manuscritos antigos do Alcorão.  Durante nossa visita no museu, Zenita me contou como tinha abraçado o Islã tendo dois dos seus amigos palestinos como testemunhas.

Perguntei: “Como decidiu tornar-se muçulmana?”  Ela então me contou que tinha deixado a aula do professor Katsh quando ficou doente com uma grave infecção renal.  Sua condição era tão grave que a mãe e o pai não esperavam que sobrevivesse.  “Uma tarde enquanto queimava de febre, peguei meu Alcorão sagrado sobre a mesa ao lado de minha cama e comecei a lê-lo e, enquanto recitava os versículos, tocou-me tão profundamente que comecei a chorar e soube então que ficaria boa.  Assim que fiquei forte o suficiente para deixar minha cama, chamei dois de meus amigos muçulmanos e fiz o juramento da “Shahada” ou confissão de fé.”

Zenita e eu fazíamos nossas refeições em restaurantes sírios, onde adquiri um gosto por essa deliciosa cozinha.  Quando tínhamos dinheiro para gastar, pedíamos cuscuz, carneiro assado com arroz ou um prato de sopa de deliciosas almôndegas nadando em um molho acompanhadas de pão árabe.  E quando tínhamos pouco para gastar, comíamos arroz com lentilha, ao estilo árabe, ou o prato nacional egípcio de fava com muito alho e cebolas chamado “Ful”.

Enquanto o professor Katsh nos ensinava, eu comparava em minha mente o que tinha lido no Velho Testamento e no Talmude com o que era ensinado no Alcorão e Hadith. Achei o Judaísmo tão falho que me converti ao Islã.

P: Teve medo de não ser aceita pelos muçulmanos?

R: Minha simpatia crescente pelo Islã e ideais islâmicos enfureceu os outros judeus que conhecia e achavam que os tinha traído da pior maneira possível.  Costumavam me dizer que uma reputação como essa só podia ser resultado de vergonha de minha herança ancestral e um intenso ódio por meu povo.  Advertiram-me que mesmo que tentasse tornar-me muçulmana, jamais seria aceita.  Esses temores provaram-se totalmente infundados, já que nunca fui estigmatizada por qualquer muçulmano por causa de minha origem judaica.  Assim que me tornei muçulmana recebi boas vindas entusiasmadas de todos os muçulmanos como sendo parte do grupo.

Não abracei o Islã por ódio a minha herança ancestral ou ao meu povo.  Não queria rejeitar, mas realizar.  Para mim significava a transição de uma fé paroquial para uma fé dinâmica e revolucionária.

P: Sua família fez objeção ao seu estudo do Islã?

R: Embora eu quisesse tornar-me muçulmana desde 1954, a minha família conseguiu me desencorajar.  Fui avisada que o Islã complicaria minha vida porque não é parte do cenário americano, como o Judaísmo e o Cristianismo.  Disseram que o Islã me alienaria da minha família e me isolaria da comunidade.  Na época minha fé não era suficientemente forte para enfrentar essas pressões.  Parcialmente como resultado desse turbilhão interno, fiquei tão doente que tive que interromper a universidade antes da época de me graduar.  Pelos dois anos seguintes fiquei em casa sob cuidados médicos, piorando gradativamente.  Em desespero de 1957 a 195 meus pais me confinaram a hospitais públicos e privados onde prometi que se me recuperasse o suficiente para ter alta, abraçaria o Islã.

Depois de receber permissão para voltar para casa, investiguei todas as oportunidades para encontrar muçulmanos em Nova Iorque.  Tive a sorte de encontrar alguns dos melhores homens e mulheres que alguém jamais poderia esperar.  Comecei também a escrever artigos para revistas islâmicas.

P: Qual foi a atitude de seus pais e amigos depois que se tornou muçulmana?

R: Quando abracei o Islã meus pais, parentes e seus amigos me consideraram quase como uma fanática, porque eu não conseguia falar ou pensar em mais nada.  Para eles a religião é uma questão puramente privada que, no máximo, pode ser cultivada como um hobby amador entre outros hobbies.  Mas assim que li o Alcorão sagrado eu sabia que o Islã não era hobby, mas a própria vida!

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