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Anne Collins, ex-cristã, EUA

1450 2015/03/24 2024/11/17

Cresci em uma família cristã religiosa.  Naquela época os norte-americanos eram mais religiosos do que são agora - a maioria das famílias ia à igreja todos os domingos, por exemplo.  Meus pais eram envolvidos na comunidade da igreja.  Frequentemente tínhamos ministros ("sacerdotes" protestantes) na casa.  Minha mãe ensinava na escola dominical e eu a ajudava.


Devo ter sido mais religiosa que as outras crianças, embora não me lembre de sê-lo.  Em um aniversário minha tia me deu uma Bíblia e para minha irmã uma boneca.  Outra vez pedi aos meus pais um livro de orações e o li diariamente por muitos anos.


Quando estava no segundo grau frequentei o programa de estudos bíblicos por dois anos.  Até esse ponto tinha lido algumas partes da Bíblia, mas não os tinha compreendido muito bem.  Agora era minha chance de aprender.  Infelizmente estudamos muitas passagens no Velho e Novo Testamento que achei inexplicáveis e até bizarras.  Por exemplo, a Bíblia ensina uma ideia chamada de Pecado Original, que significa que todos os humanos nascem pecadores.  Eu tinha um irmão ainda bebê e sabia que os bebês não eram pecadores.  A Bíblia tem histórias muito estranhas e perturbadoras sobre o profeta Abraão e o profeta Davi, por exemplo.  Não podia entender como profetas podiam se comportar da forma que a Bíblia dizia.  Havia muitas, muitas outras coisas que me intrigavam sobre a Bíblia, mas não fazia perguntas.  Tinha medo de perguntar - queria ser conhecida como uma "boa menina". Alhamdulillah (graças a Deus) havia um menino que perguntava e continha perguntando.


O assunto mais crítico era a noção de Trindade.  Não conseguia entendê-la.  Como Deus podia ter três partes, uma das quais era humana?  Tendo estudado mitologia grega e romana na escola, considerei a ideia da Trindade e santos humanos poderosos muito semelhante às ideias grega e romana de ter diferentes supostos "deuses" encarregados de aspectos diferentes da vida.  (Astaghfir-Ullah!) (Busco o perdão de Deus) O menino fazia muitas perguntas sobre a Trindade, recebia muitas respostas e nunca estava satisfeito.  Nem eu. Finalmente nosso professor, um professor de Teologia da universidade de Michigan, disse a ele para orar pedindo para ter fé.


Eu orei.

Quando estava no segundo grau secretamente quis ser freira.  Era atraída pelo padrão de oferecer devoções em determinados horários do dia, de uma vida inteiramente devotada a Deus e de me vestir de uma forma que declarava meu estilo de vida religioso.  Um obstáculo a essa ambição, entretanto, era eu não ser católica.  Morava em uma cidade do meio-oeste na qual os católicos eram uma minoria diferente e impopular!  Além disso, minha educação protestante tinha instilado em mim uma aversão pelas esculturas religiosas e uma descrença saudável na capacidade de santos mortos poderem me ajudar.


Na universidade continuei a pensar e orar.  Os alunos frequentemente conversavam e discutiam sobre religião e ouvi muitas ideias diferentes.  Como Yusuf Islam (Cat Stevens), estudei as chamadas religiões orientais: Budismo, Confucionismo e Hinduísmo.  Não consegui ajuda ali.


Encontrei um muçulmano da Líbia que me falou um pouco sobre o Islã e o Alcorão Sagrado.  Ele me disse que o Islã é a forma moderna e mais atualizada da religião revelada.  Como considerava a África e o Oriente Médio como lugares atrasados, não podia ver o Islã como moderno. Minha família levou esse irmão líbio a um serviço religioso de Natal.  O serviço estava deslumbrantemente belo, mas no final ele perguntou: "Quem elaborou esse procedimento?  Quem ensinou vocês quando ficar de pé, se curvar e ajoelhar?  Quem ensinou vocês como orar?" Contei a ele sobre a história da Igreja primitiva, mas a pergunta dele me deixou zangada no início e depois me fez pensar.


As pessoas que elaboraram o serviço de adoração eram realmente qualificadas para fazê-lo?  Como sabiam a forma que a adoração tomaria?  Tinham tido instrução divina?


Sabia que não acreditava em muitos dos ensinamentos do Cristianismo, mas continuei a frequentar a igreja.  Quando a congregação recitava partes que acreditava ser blasfemas, como o Credo Niceno, ficava em silêncio - não as recitava.  Eu me sentia quase uma estranha na igreja. Sabia que não acreditava em muitos dos ensinamentos do Cristianismo, mas continuei a frequentar a igreja. 


Horror!  Alguém muito próximo a mim, com graves problemas conjugais, foi ao vigário de nossa igreja em busca de conselho.  Tirando vantagem de sua dor e autoaversão, ele a levou a um motel e a seduziu.


Até esse momento não tinha considerado de forma cuidadosa o papel do clero na vida cristã.  Agora tinha que fazê-lo.  A maioria dos cristãos acreditam que o perdão vem por meio do serviço da "comunhão sagrada" e que o serviço deve ser conduzido por um padre ou ministro ordenado.  Sem ministro, não há absolvição.


Fui à igreja novamente, sentei e olhei para os ministros à minha frente.  Não eram melhores que a congregação - alguns deles eram piores.  Como podia ser verdade que a intermediação de um homem, de qualquer ser humano, fosse necessária para a comunhão com Deus?  Por que eu não podia lidar com Deus diretamente e receber Sua absolvição diretamente?


Logo depois disso encontrei uma tradução dos significados do Alcorão em uma livraria, comprei-a e comecei a lê-la.  Eu a li, indo e vindo, por oito anos.  Durante esse tempo continuei a investigar outras religiões. Fiquei cada vez mais ciente e temerosa de meus pecados.  Como podia saber se Deus me perdoaria?  Não acreditava mais que o modelo cristão, a forma cristã de ser perdoada, funcionava. Meus pecados pesavam muito sobre mim e não sabia como escapar de seu fardo. Ansiava por perdão.


Li no Alcorão:

"... mais próximos do afeto dos crentes são os que dizem: Somos cristãos! Porque possuem sacerdotes devotados ao conhecimento e que não se ensoberbecem de coisa alguma.  E, ao escutarem o que foi revelado ao Mensageiro, tu vês lágrimas a lhes brotarem nos olhos; reconhecem naquilo a verdade.  Dizem: Ó Senhor nosso,  cremos!   Inscreve-nos entre os testemunhadores!  E por que não haveríamos de crer em Deus e em tudo quanto nos chegou, da verdade, e como não haveríamos de aspirar a que nosso Senhor nos contasse entre os virtuosos?" (Alcorão 5:82-84)


Vi muçulmanos orando no canal de notícias e quis aprender como.   Encontrei um livro (de um não-muçulmano) que descrevia e tentei fazer a oração eu mesma.  (Não sabia nada sobre Taharah - pureza ritual - e não orei corretamente)  Orei de meu próprio jeito estranho e desesperado, secretamente e sozinha, por vários anos.  Memorizei algumas partes do Alcorão em inglês, sem saber que os muçulmanos memorizam o Alcorão em árabe.


Finalmente depois de oito anos lendo o Alcorão, encontrei esse versículo:

"Hoje, completei a religião para vós; tenho-vos agraciado generosamente e escolhi para vós o Islã como sua religião." (Alcorão 5:3)


Chorei de alegria porque sabia que, muito tempo atrás, antes da criação da Terra, Deus tinha escrito esse Alcorão para mim e para outros.  Deus sabia que Anne Collins em Cheektowaga, Nova Iorque, EUA, leria esse versículo do Alcorão em maio de 1986 e seria salva.


Agora sabia que havia muitas coisas que tinha que aprender, por exemplo, como oferecer a oração islâmica formal.  O problema é que eu não conhecia muçulmanos.


Os muçulmanos são muito mais visíveis nos EUA agora do que eram na época.  Não sabia onde encontrá-los. Encontrei o número do telefone da Sociedade Islâmica na lista telefônica, disquei, mas quando um homem atendeu entrei em pânico e desliguei.  O que eu devia dizer?  Como eles me responderiam?  Ficariam desconfiados?  Por que iriam me querer se tinham uns aos outros e seu Islã?


Nos dois meses seguintes liguei para a mesquita várias vezes e a cada vez entrei em pânico e desliguei. Finalmente tomei uma atitude covarde: escrevi uma carta pedindo informação. O irmão paciente e gentil na mesquita me ligou e começou a enviar panfletos sobre o Islã. Disse a ele que queria ser muçulmana, mas ele me disse: "Espere até ter certeza." Fiquei chateada por ele ter dito para eu esperar, mas sabia que estava certo, que tinha que ter certeza porque uma vez que aceitasse o Islã, nada seria como antes novamente.

Fiquei obcecada com o Islã.  Pensava sobre isso dia e noite.  Em várias ocasiões dirigi até a mesquita (na época era uma antiga casa) e a circulei muitas vezes, esperando ver um muçulmano, me perguntando como era por dentro. Finalmente um dia no início de novembro de 1986, enquanto trabalhava na cozinha, repentinamente soube, soube que era muçulmana.  Ainda uma covarde, enviei para a mesquita outra carta.  Dizia: "Acredito em Allah (Deus), no Verdadeiro e Único Deus, acredito que Muhammad é Seu mensageiro e quero estar entre as testemunhas."


O irmão me ligou no dia seguinte e fiz minha shahadah[1] com ele por telefone.  Então ele me disse que Deus tinha perdoado todos os meus pecados naquele momento e que eu era pura com um bebê recém-nascido.

Senti o fardo do pecado sair dos meus ombros e chorei de alegria.  Dormi pouco aquela noite, chorando e repetindo o nome de Deus.

O perdão tinha sido concedido.  Alhamdulillah!



Footnotes:

[1] A declaração que uma pessoa faz quando aceita o Islã (e muitas vezes ao dia depois disso): Testemunho que não há divindade além de Deus e que Muhammad é Seu mensageiro.

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