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Equívocos sobre Allah (parte 3 de 3): O deus lua

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1788 2013/12/31 2024/11/17

Pessoas mal informadas às vezes referem-se a Allah como uma interpretação moderna de um antigo deus lua.  Essa deturpação grosseira de Allah geralmente vem combinada com afirmações estranhas e infundadas de que o profeta Muhammad, que Deus o louve, ressuscitou esse deus e o fez o foco da religião do Islã.  Isso é categoricamente falso.  Allah é Deus, o Único, o Misericordiosíssimo.  Allah é o Deus de Abraão, Moisés e Jesus.


“Esta é a puríssima verdade: não há mais divindade além de Deus e Deus é o Poderoso, o Prudentíssimo.” (Alcorão 3:62)


Sabe-se muito pouco a respeito da religião dos árabes antes do profeta Abraão.  Há pouca dúvida de que os árabes erradamente adoravam ídolos, corpos celestes, árvores e pedras e que alguns de seus ídolos inclusive tinham características animais.  Embora um número de deidades menores em toda a Península Arábica possam ter sido associados com a lua[1], não há evidência de que os árabes algum dia adoraram um deus lua acima dos demais deuses.


Por outro lado, há evidência de que o sol, construído como um deus feminino, era adorado em toda a Arábia.  O Sol (Shams) foi honrado por várias tribos árabes com santuários e ídolos.  O nome Abdu Shams (servo do sol) era encontrado em muitas partes da Arábia.  No norte, o nome Amr-I-Shams, “homem do sol”, era comum e o nome Abd-al-Sharq, “servo do Nascente”, é evidência da adoração do sol nascente.[2]


Um dos tios do profeta Muhammad chamava-se Abdu Shams e também o homem com o apelido de Abu Hurairah, um renomado estudioso islâmico da primeira geração de muçulmanos.  Quando Abu Hurairah converteu-se ao Islã, o profeta Muhammad mudou o nome dele para Abdu Rahman (servo do Misericordioso).


Os muçulmanos acreditam com certeza plena que, desde o começo da criação, Allah enviou profetas e mensageiros para orientar e ensinar a humanidade.  Portanto, a religião original da humanidade era a submissão a Allah.  Os primeiros árabes adoravam a Allah, entretanto, com o passar do tempo sua adoração foi corrompida por ideias feitas pelo homem e superstições.  A razão para isso foi perdida no tempo, mas devem ter caído na prática da idolatria da mesma forma que o povo do profeta Noé.


Os descendentes do profeta Noé eram uma comunidade que acreditava na unicidade de Allah, mas a confusão e o desvio tomaram conta.  Homens virtuosos tentaram lembrar o povo de suas obrigações com Allah, mas o tempo passou e Satanás viu uma oportunidade de desviar o povo.  Quando os homens virtuosos morreram, Satanás sugeriu ao povo que construíssem estátuas dos homens para ajudá-los a lembrar de suas obrigações com Allah. 


O povo construiu estátuas em seus locais de congregação e em suas casas e Satanás deixou-os de lado até que todos tinham esquecido a razão para a existência das estátuas.  Muitos anos depois Satanás apareceu entre o povo novamente, dessa vez sugerindo que adorassem os ídolos diretamente.  Uma narração autêntica do profeta Muhammad, que Deus o louve, resume o início da idolatria da seguinte maneira:


“Os nomes (dos ídolos) formalmente pertenciam aos homens virtuosos do povo de Noé e quando morreram Satanás inspirou seu povo a preparar e colocar ídolos nos lugares em que costumavam sentar-se e chamar aqueles ídolos pelos nomes deles.  O povo assim fez, mas os ídolos não eram adorados até que aquelas pessoas (que os iniciaram) morreram e a origem dos ídolos tornou-se obscura, período a partir do qual o povo começou a adorá-los.”[3]


Quando o profeta Abraão e seu filho Ismael reconstruíram a Casa Sagrada de Allah (a Caaba), a maioria dos árabes seguiu seu exemplo e retornou para a adoração do Deus Único. Entretanto, com o passar do tempo os árabes voltaram ao seu velho hábito de adorar ídolos e semideuses.  Há pouca dúvida e muita evidência para sugerir que nos anos entre os profetas Abraão e Muhammad a religião da Península Arábica passou a ser dominada pela adoração de ídolos.


Cada tribo ou residência tinha imagens esculpidas e estátuas e os árabes acreditavam em adivinhos, usavam pêndulos para prever eventos futuros e realizavam sacrifícios de animais e rituais no nome dos seus ídolos.  Diz-se que os ídolos principais do povo de Noé foram encontrados enterrados na área em que hoje fica Jedá, na Arábia Saudita, e distribuídos entre as tribos árabes[4].   Quando o profeta Muhammad retornou triunfantemente a Meca, a Caaba[5] continha mais de 360 ídolos diferentes.


Os ídolos mais conhecidos na Arábia pré-islâmica eram Manat, al Lat, e al Uzza.[6]  Não há evidência que ligue qualquer um desses ídolos com deuses lua ou com a lua. Os árabes adoravam esses ídolos e recorriam a eles para intercessão.   Allah repudiou essa adoração a falsos ídolos.


“Considerai Al-Lát e Al-Uzza. E a outra, a terceira (deusa), Manata. Porventura, pertence-vos o sexo masculino e a Ele o feminino? Tal, então, seria uma partilha injusta. Tais (divindades) não são mais do que nomes, com que as denominastes, vós e vossos antepassados, acerca do que Deus não vos conferiu autoridade alguma. Não seguem senão as sua próprias conjecturas e as luxúrias das suas almas, não obstante ter-lhes chegado a orientação do seu Senhor!” (Alcorão 53: 19-23)


No meio do paganismo e politeísmo predominantes os árabes pré-islâmicos nunca invocaram um deus lua como divindade suprema. De fato, não há evidência de que algum dia invocaram um deus lua.  Por gerações não perderam sua crença no Único governante supremo do universo (mesmo que na maior parte do tempo mantivessem o conceito errôneo de crença em Allah).  Estavam cientes de Suas bênçãos e Sua punição e acreditavam no Dia do Juízo.  Poetas da época referiam-se a Allah regularmente.


Nabigha, um poeta muito conhecido do século 5 EC disse: “Fiz uma promessa e não deixei margem para dúvida sobre quem pode dar apoio ao homem, além de Allah” e Zuhair b. Abi. Salma afirma sua fé no Dia do Juízo dizendo: “As ações são registradas no pergaminho a ser apresentado no Dia do Juízo. A vingança também pode ser adotada nesse mundo.”   O Alcorão também testemunha o fato de que os árabes pré-islâmicos eram cientes de Allah - Deus - o Único.


“E se lhes perguntas: Quem criou os céus e a terra e submeteu o sol e a lua? Eles respondem: Allah (Deus)! Então, por que se retraem? Deus prodigaliza e restringe a subsistência a quem Lhe apraz, dentre os Seus servos, porque Deus é Onisciente. E se lhes perguntas: Quem faz descer a água do céu e com ela vivifica a terra, depois de haver sido árida? Respondem-te: Deus! Dize: Louvado seja Deus! Porém, a maioria é insensata.” (Alcorão 29: 61-63)



Footnotes:

[1] https://www.britannica.com/EBchecked/topic/31651/Arabian-religion/68308/Pre-Islamic-deities

[2] Encyclopaedia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética), artigo “Ancient Arab” (Árabes Antigos), Vol. 1, p. 661.

[3] Saheeh Al-Bukhari

[4] Safi-ur-Rahman al-Mubarkpur,  (2002)  The Sealed Nectar (O Néctar Selado),  2a edição revisada.  Darussalam, Riad.

[5] A construção em forma de cubo no centro da Mesquita Sagrada, na cidade de Meca, Arábia Saudita.

[6] Hisham Ibn Al-Kalbi, Kitab al-Asnam, editado por Ahmad Zaki Pasha. (Cairo, 1927), pp. 9-14.

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