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Biografia de Muhammad (parte 6 de 12): A Hégira do Profeta

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1984 2014/01/26 2024/12/30

A Hégira (23 de setembro de 622 EC)

Enquanto isso, o Profeta, com uns poucos íntimos, esperava a ordem divina para se unir aos muçulmanos em Yathrib.  Não estava livre para emigrar até que esse comando viesse.  Finalmente o comando veio.  Ele deu um manto para Ali, dizendo-lhe para deitar na cama de modo que qualquer um que olhasse pensasse que Muhammad estava deitado lá.  Os assassinos deviam atacá-lo quando saísse da casa, à noite ou cedo pela manhã.  Ele sabia que não feririam Ali.  Os assassinos já estavam cercando sua casa quando o Profeta Muhammad saiu sem ser visto.  Foi para a casa de Abu Bakr e o chamou, e ambos foram juntos para uma caverna em um monte deserto, se escondendo lá até que a confusão tivesse passado.  O filho e filha de Abu Bakr e seu pastor lhes trouxeram comida e novidades depois da noite cair.  Uma vez, um grupo de busca chegou tão perto de seu esconderijo que puderam ouvir suas palavras.  Abu Bakr estava com medo e disse: “Ó Mensageiro de Deus, se um deles olhar para o próprio pé, nos verá!” O Profeta respondeu:


“O que você pensa de duas pessoas com as quais Deus é o Terceiro? Não fique triste, porque de fato Deus está conosco.” (Saheeh Al-Bukhari)


Quando o grupo de busca partiu, Abu Bakr recebeu os camelos e o guia na caverna à noite, e partiram para a longa cavalgada até Yathrib.


Depois de viajarem por muitos dias através de caminhos ermos, os fugitivos alcançaram um subúrbio de Yathrib chamado Qubaa, onde, algumas semanas antes, o povo da cidade ouviu que o Profeta tinha deixado Meca e, portanto, iam para os montes locais todas as manhãs, esperando pelo Profeta até que o calor os levasse a buscar abrigo.   Os viajantes chegaram no calor do dia, após os observadores terem se retirado.  Um judeu que estava fora o viu se aproximando e avisou os muçulmanos que aquele que esperavam tinha finalmente chegado, e os muçulmanos foram para os montes de Qubaa para saudá-lo.


O Profeta ficou em Qubaa por alguns dias, e lá estabeleceu a primeira mesquita do Islã.  Ali, que tinha deixado Meca a pé três dias depois do Profeta, tinha chegado também.  O Profeta, seus companheiros de Meca e os “Ajudantes” de Qubaa o levaram para Medina, onde tinham antecipado ansiosamente sua chegada.


Os habitantes de Medina nunca viram um dia mais animado em sua história.  Anas, um amigo próximo do Profeta, disse:


“Eu estava presente no dia que ele entrou em Medina e nunca vi um dia melhor ou mais animado que o dia que ele chegou para nós em Medina. E estava presente no dia que ele morreu, e nunca vi um dia pior ou mais triste do que o dia no qual ele morreu.” (Ahmed)


Toda casa em Medina queria que o Profeta ficasse com eles, e alguns tentaram levar sua camela para suas casas.  O Profeta os impediu e disse:


“Deixe-a, porque ela está sob Comando (Divino)”.

Ela passou por muitas casas até que parou e se ajoelhou na terra de Banu Najjaar.  O Profeta não desceu até que a camela se levantou e andou um pouco, e então se voltou para o local original e se ajoelhou novamente.  Nesse momento o Profeta desceu.  Ele ficou feliz com sua escolha, porque Banu Najjaar eram seus tios maternos e ele também desejava honrá-los.  Quando indivíduos da família pediram que entrassem em suas casas, um certo Abu Ayyoub se adiantou para cuidar de sua sela e a levou para sua casa.  O Profeta disse:


“Um homem vai com sua sela.” (Saheeh Al-Bukhari, Saheeh Muslim)

A primeira tarefa que empreendeu em Medina foi construir uma mesquita.  O Profeta, que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele, perguntou aos dois meninos que eram proprietários do armazém de tâmaras o preço do depósito.  Eles responderam: “Não, faremos dele um presente para ti, Ó Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele) de Deus!” O Profeta (que a misericórdia e as bênçãos de Deus estejam sobre ele), entretanto, recusou sua oferta, pagou seu preço e construiu uma mesquita, tomando parte em sua construção.  Enquanto trabalhava, foi ouvido dizendo:


“Ó Deus! Não há bondade exceto a da Vida Futura então, por favor, perdoe os Ajudantes e os Emigrantes.” (Saheeh Al-Bukhari)


A mesquita servia como local de adoração para os muçulmanos.  A oração que antes era um ato individual realizado em segredo agora se tornou um assunto público, um que simboliza uma sociedade muçulmana.  O período no qual os muçulmanos e o Islã estavam subjugados e oprimidos tinha acabado e agora o adhan, o chamado para oração, seria feito em voz alta, ecoando e penetrando as paredes de toda casa, chamando e lembrando os muçulmanos de cumprirem sua obrigação com seu Criador.   A mesquita era um símbolo da sociedade islâmica.  Era um local de adoração, uma escola onde os muçulmanos se iluminavam sobre as verdades da religião, um local de reunião onde as diferenças de várias partes em conflito se resolviam, e um prédio administrativo a partir do qual os assuntos referentes à sociedade emanavam, um verdadeiro exemplo de como o Islã incorpora todos os aspectos da vida na religião.  Todas essas tarefas eram empreendidas em um local construído sobre os troncos de tamareiras cobertos com suas folhas.


Quando a primeira e mais importante tarefa foi concluída, ele também fez casas em ambos os lados da mesquita para sua família, dos mesmos materiais.  A mesquita e a casa do Profeta em Medina continuam hoje no mesmo lugar.


A Hégira havia sido completada.  Era 23 de setembro de 622, e a Era Islâmica, o calendário muçulmano, começa no dia que esse evento ocorreu.  E desse dia em diante Yathrib recebeu um novo nome, um nome de glória: Madinat-un-Nabi, Cidade do Profeta, resumido, Medina.


Assim foi a Hégira, a emigração de Meca para Yathrib.  Os treze anos de humilhação, perseguição, de sucesso limitado, e de profecia ainda por se cumprir estavam para trás.


Os dez anos de sucesso, a plenitude que coroou o empenho de um homem, tinham começado.  A Hégira fez uma divisão clara na história da Missão do Profeta, que é evidente do Alcorão.  Até então ele tinha sido apenas um pregador.  Dali em diante ele era o governante de um Estado, a princípio muito pequeno, mas que cresceu em dez anos para se tornar o império da Arábia.  O tipo de orientação que ele e seu povo precisavam depois da Hégira não era o mesmo daquele que tinham precisado antes.  Os capítulos de Medina diferem, consequentemente, dos capítulos de Meca.  Os últimos dão orientação à alma individual e ao Profeta como Admoestador: os primeiros dão orientação a uma comunidade social e política e ao Profeta como exemplo, legislador e reformador.

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