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Dr. Moustafa Mould, ex-judeu, EUA (parte 2 de 5)

1645 2015/01/21 2024/11/17

Também frequentei uma "Madrasah" avançada, estudando história judaica, hebraico, Torá, aramaico e Talmude (o fiqh judaico); embora idiomas continuassem a ser meu interesse principal.  Por volta da mesma época, com a idade de quinze anos, perdi minha fé, minha crença em Deus.  Antes havia concluído que se Deus nos ordena a fazer certas coisas, como posso não fazê-las? Assim, tentei ser mais ortodoxo.  Então, um dia me peguei dizendo, se Deus diz para fazer tudo isso, devo fazê-lo, mas e se não existir Deus? Acredito em Deus? Realmente não sabia. Talvez não, acho que não.  E se Deus não existe, não preciso fazer tudo isso.  E parei.  Você pode imaginar o quanto meu pai ficou zangado.

Muitas pessoas, particularmente os católicos romanos e os protestantes fundamentalistas que cresceram em um ambiente religioso rígido, cheio de ameaças de inferno e danação, apanhando das freiras na escola e sendo levados a se sentirem culpados sobre coisas que são meramente parte da fitrah (natureza) - como seus corpos - ficam felizes em sair da religião. De fato, se tornam muito antirreligiosos, sentindo-se como se tivessem sido libertados de uma prisão!  Meu sentimento não era esse. Sentia-me triste, mais como se tivesse sofrido uma perda, mas não havia nada que pudesse fazer. Sabia que seria confortante acreditar, mas não conseguia.  Ao longo dos anos 1960 e 1970 ocasionalmente tive esses sentimentos e anseios corrosivos.

Como Jeffrey Lang disse em seu livro sobre sua conversão ao Islã, o ateu sente um vazio e uma solidão que as pessoas de fé não conseguem compreender.  O mundo é absurdo, um acidente.  A ciência tem, ou terá, todas as respostas, mas a vida não tem sentido ou significado reais.  A morte é o fim.  Você pode ter influência e um impacto no mundo através de seus filhos; pode se sair bem, ser lembrado nos livros de história por centenas, até milhares de anos; quando o sol morrer a humanidade pode colonizar outros sistemas estelares, talvez até outras galáxias.  Mas, no fim, mesmo que leve 15 bilhões de anos, o universo em si morrerá ou entrará em colapso em um buraco negro ou qualquer outra coisa e o fim é o nada absoluto, a única coisa que é infinita é um vácuo.  A vida, então, é sem sentido e a morte, aterrorizante.  A verdade e a moralidade se tornam relativas, que podem levar à confusão moral, hedonismo e pior.  Mas ao invés do desprezo pelas pessoas religiosas que muitos ateus alegam sentir, eu as respeitava e com frequência as invejava pela segurança, certeza e conforto que experimentavam.

Fui de uma hora para outra de um quase ortodoxo a um ateu, embora continuasse a amar os idiomas, cultura, música, comida e história judaicos.  Era um judeu "étnico" e continuava um sionista.  O sionismo ainda era amplamente uma filosofia política, não tanto uma filosofia religiosa.  De fato, naquela época ainda havia oposição significativa ao sionismo entre muitos dos ortodoxos.  O sionismo atual, do tipo religioso e messiânico, não se desenvolveu até 1967 - 1973, quando Israel tomou Jerusalém.  Também decidi que queria ser um linguista histórico, especializado em línguas semitas, mas as universidades que escolhi não me aceitaram e a que me aceitou não oferecia árabe, ou mesmo linguística.

Em minha universidade no início dos anos 1960 entrei em contato com uma variedade maior de pessoas.  Pela primeira vez conheci um grande número de protestantes, afro americanos e estudantes estrangeiros que eram muçulmanos.  Não encontrava mais o antissemitismo e estava começando a gostar e apreciar a diversidade da América e minha exposição aos estudantes internacionais.  No final do meu segundo ano estava comendo bacon e costeletas de porco. Ao mesmo tempo ajudei a organizar e fui o presidente da sede da Organização Sionista Estudantil no campus.  Fui o vice-presidente em New England no meu último ano.

Muitos de nós éramos politicamente da esquerda, vindo de famílias da classe trabalhadora, cujo espectro abrangia de liberal democrata a comunista.  Éramos a favor da sindicalização e da União Americana pelas Liberdades Civis, anti-McCartistas, contra Nixon e o Comitê de Atividades Antiamericanas.  Reverenciávamos Franklin D. Roosevelt, Hubert Humphrey e Adlai Stevenson.  Estávamos envolvidos em sionismo trabalhista e nos kibutzim.  Uma coisa quero enfatizar, por causa do efeito profundo que teve em mim anos depois: naquela época a maioria dos judeus eram socialistas ou liberais democratas, muitos ainda pertenciam à classe trabalhadora, não tão bem-sucedidos como são agora.  Lembro-me claramente do partido Herut de direita, de sua ideologia expansionista e das atividades terroristas nos anos 1940.  Nós os considerávamos fanáticos e lunáticos.

Fiz um seminário sobre o Oriente Médio.  Aos dezenove anos pensei que sabia tudo.  Meu professor era sírio e achei que era muçulmano.  Ensinaria a ele algumas coisas.  Era notavelmente paciente e tolerante comigo, considerando sua óbvia posição antissionista e anti-Israel. Suas críticas aos meus trabalhos eram objetivas e leves, principalmente de que eram muito parciais.  Comecei a prestar mais atenção ao outro lado e percebi quanta propaganda tinha absorvido e quanta informação havia ignorado.  Não tirei uma nota muito boa, mas aprendi muito. Foi o professor Haddad que me fez perceber que uma pessoa pode ser simultaneamente secular e religiosa.

Ao mesmo tempo, estava me tornando cada vez mais envolvido com os movimentos sobre direitos civis e contra a guerra do Vietnã.  Juntei-me ao Comitê Coordenador Estudantil para a Não-Violência e à Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor e participei em protestos pacíficos em lanchonetes.  Ajudei a fundar nossa sede no campus da então levemente radical Estudantes para uma Sociedade Democrática.  Especializei-me em governo, fiz vários cursos em lei constitucional e relações internacionais.  Fui para Washington, D.C. em agosto de 1963 para participar na "Marcha em Washington" e fiquei a menos de 20 metros do Dr. King quando ele fez aquele discurso maravilhoso.

Tinha perdido minha fé aos 15 e aos 22 tinha perdido o sionismo.  Ainda tinha minha herança étnica, embora tivesse começado a me sentir desconfortável com o territorialismo de muitos judeus.  Sentia-me como um americano normal lutando por causas americanas.  Preparei-me para ser um professor de estudos sociais, mas o mercado de trabalho não era bom.  Depois de dois anos atuando como substituto e uma posição temporária em minha antiga escola secundária, juntei-me ao Corpo da Paz porque a aventura e idealismo melhoraram minhas perspectivas de trabalho depois e para evitar ser recrutado e mandando para o Vietnã.  Fui selecionado para ir para Uganda, África.

Estava extremamente feliz naquele belo país, morando onde o Nilo flui do Lago Vitória, ensinando alunos que queriam aprender em uma sociedade na qual professores eram respeitados.  Estava aprendendo novas línguas e culturas.  Desenvolvi um gosto pelas cozinhas africana e indo-paquistanesa.  Como não havia muito que fazer em uma cidade pequena, comecei a assistir filmes indianos.  Gostava particularmente de Mohammed Rafi, o famoso cantor, especialmente de seu qawalis. Lembrava-me da música religiosa de meu pai.  Também gostava da ambientação árabe omanita islâmica que encontrei na costa: Mombasa, Dar es-Salam, Zanzibar.  Foi a primeira vez não em um filme de Hollywood (ou de Bombaim) que ouvi o adhan (o chamado para a oração no Islã).  Até nos filmes suas melodias tristes sempre me transmitem muita emoção.  Estava aprendendo duas línguas africanas, suaíli e luganda.  Suaíli era muito fácil para mim. Metade de seu vocabulário é do árabe e praticamente o mesmo do hebraico.  Mas o suaíli é uma língua banto e estava fascinado pelas semelhanças e diferenças entre suaíli e luganda.  Tomei uma decisão: aqui era minha última chance de fazer o que sempre quis - linguística - mas agora com banto, ao invés de línguas semitas.  Fiz minha inscrição para a pós-graduação.

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