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Os Direitos de Não-Muçulmanos no Islã (parte 11 de 13): Bom Tratamento
O Alcorão instrui os muçulmanos a tratarem os não-muçulmanos de forma cortês em um espírito de gentileza e generosidade, desde que não sejam hostis em relação aos muçulmanos. Deus diz:
“Deus nada vos proíbe, quanto àquelas que não nos combateram pela causa da religião e não vos expulsaram dos vossos lares, nem que lideis com eles com gentileza e equidade, porque Deus aprecia os equitativos. Deus vos proíbe tão-somente entrar em privacidade com aqueles que vos combateram na religião, vos expulsaram de vossos lares ou que cooperaram na vossa expulsão. Em verdade, aqueles que entrarem em privacidade com eles serão iníquos.” (Alcorão 60:8-9)
Al-Qarafi, um estudioso muçulmano clássico, descreve a profundidade do significado de “lidar com gentileza” referido no versículo acima. Ele explica o termo:
“... gentileza em relação aos fracos, provendo-os com roupas para cobri-los e fala gentil. Isso deve ser feito com afeição e misericórdia, não por intimidação ou degradação. Além disso, tolerar o fato de que podem ser vizinhos incômodos a quem podia forçar a se mudar, mas não o faz por gentileza, não por medo ou razões financeiras. Orar para que recebam orientação e assim se juntem às fileiras dos abençoados com recompensa externa, aconselhando-os em todos os assuntos mundanos e espirituais, protegendo sua reputação se forem expostos à difamação e defendendo suas propriedades, famílias, direitos e interesses. Auxiliando-os contra opressão e dando-lhes seus direitos.” [1]
Os mandamentos divinos para tratar os não-muçulmanos dessa forma foram levados a sério pelos muçulmanos. Não são apenas versículos para serem recitados, mas Vontade Divina a ser implementada. O próprio profeta, que a misericórdia e bênçãos de Deus estejam sobre ele, foi a primeira pessoa a colocar os mandamentos divinos em prática, seguido pelos califas e a população geral de crentes. A história de vida do profeta do Islã dá muitos exemplos dessa coexistência gentil e tolerante com não-muçulmanos. Alguns de seus vizinhos eram não-muçulmanos e o profeta era generoso com eles e trocava presentes. O profeta do Islã os visitava quando ficavam doentes e fazia negócios com eles. Havia uma família judia a quem ele regularmente dava caridade e os muçulmanos após sua morte mantiveram a caridade em relação a eles.[2]
Quando uma delegação cristã das igrejas etíopes veio a Medina o profeta abriu sua mesquita para eles ficarem e os hospedou generosamente, servindo-lhes pessoalmente as refeições. Ele disse:
“Eles foram generosos com seus companheiros e, por isso, desejo ser generoso com eles pessoalmente....”
.... se referindo ao evento quando forneceram asilo a vários de seus companheiros após fugirem de perseguição na Arábia e se asilarem na Abissínia.[3] Em outro exemplo, um judeu chamado Zaid bin Sana veio ao profeta do Islã reclamar um débito. Agarrou o profeta por sua túnica, puxou o profeta perto de seu rosto e disse: “Muhammad, você não vai dar o que me deve? Você e seu clã Banu Muttalib nunca paga suas dívidas pontualmente!” Umar, um dos companheiros do profeta, ficou agitado e disse: “Inimigo de Deus, estou realmente ouvindo o que acabou de dizer do profeta de Deus? Juro por Aquele que o enviou com a verdade, que se não temesse que ele me culpasse, teria tirado minha espada e cortado sua cabeça!” O profeta olhou calmamente para Umar e o censurou com gentileza:
“Umar, não é isso que precisamos ouvir de você. Você deve me aconselhar a pagar minhas dívidas e pedir a ele que busque o pagamento de maneira respeitosa. Agora o pegue, pague a dívida do meu dinheiro e lhe dê o equivalente a vinte dias extras.”
O judeu ficou tão agradavelmente surpreso pelo comportamento do profeta que imediatamente declarou sua aceitação do Islã![4]
Os companheiros do profeta Muhammad seguiram seu exemplo na forma como tratavam os não-muçulmanos. Umar estabeleceu um estipêndio permanente para a família judia que o profeta costumava cuidar durante sua vida.[5] Encontrou justificativa para alocar os fundos para o Povo do Livro nos seguintes versículos do Alcorão:
“As esmolas são tão-somente para os pobres, os necessitados, os funcionários empregados em sua administração, aqueles cujos corações têm de ser conquistados, a redenção dos escravos, os endividados, a causa de Deus e para o viajante; isso é um preceito emanado de Deus, porque é Sapiente, Prudentíssimo.” (Alcorão 9:60)
Abdullah ibn ‘Amr, um companheiro famoso do profeta Muhammad, dava caridade regularmente aos seus vizinhos. Enviava seu servo com cortes de carne nas ocasiões religiosas para seu vizinho judeu. O servo surpreso perguntava sobre a preocupação de Abdullah com seu vizinho judeu. Abdullah lhe contou o dito do profeta Muhammad:
“O anjo Gabriel estava tão inflexível em me lembrar para ser caridoso com meu vizinho que pensei que fosse fazer dele meu herdeiro.” [6]
Voltando para as páginas da história, encontramos um exemplo maravilhoso de como um governante muçulmano esperava que seus governadores tratassem a população judia. O sultão do Marrocos, Muhammad ibn Abdullah, promulgou um édito em 5 de fevereiro de 1864 EC:
“Aos nossos servidores públicos e agentes que realizam seus deveres como representantes autorizados em nossos territórios, promulgamos o seguinte édito:
‘Devem lidar com os residentes judeus de nossos territórios de acordo com o padrão absoluto de justiça estabelecido por Deus. Os judeus devem ser tratados com base em igualdade na lei para que ninguém sofra a menor injustiça, opressão ou abuso. Ninguém de sua própria comunidade ou fora dela pode ter permissão para cometer qualquer delito contra eles ou suas propriedades. Seus artesãos e artífices não podem ser colocados a serviço do governo contra sua vontade e devem receber salários integrais por servirem ao estado. Qualquer opressão fará com que o opressor esteja em trevas no Dia do Juízo e não aprovaremos nenhum tipo de mau procedimento. Todos são iguais aos olhos de nossa lei e puniremos qualquer um que proceder mal ou cometer agressão contra os judeus com ajuda divina. Essa ordem que afirmamos aqui é a mesma lei que sempre foi conhecida, estabelecida e declarada. Emitimos esse édito simplesmente para afirmar e alertar qualquer um que deseje prejudicá-los, para que os judeus tenham uma sensação maior de segurança e aqueles que tenham a intenção de prejudicá-los sejam detidos por uma sensação maior de medo.’”[7]
Renault é um dos historiadores ocidentais imparciais que reconheceu o tratamento gentil e justo dos muçulmanos em relação às minorias não-muçulmanas. Ele comenta:
“Os muçulmanos nas cidades da Espanha islâmica tratavam os não-muçulmanos da melhor maneira possível. Em troca, os não-muçulmanos demonstravam respeito às sensibilidades dos muçulmanos, circuncisando suas próprias crianças e evitando comer porco.” [8]
Footnotes:
[1] Al-Qarafi, ‘al-Furooq,’ vol 3, p. 15
[2] Abu Ubayd, al-Amwaal, p. 613
[3] Ibn Hamdun, ‘at-Tazkira al-Hamduniyya,’ vol. 2, p. 95
Siba’i, Mustafa, ‘Min Rawai Hadaratina,’ p. 134
[4] Ibn Kathir, ‘al-Bidaya wal-Nihaya,’ vol 2, p. 310
[5] Abu Yusuf, Kitab al-Kharaj, p. 86
[6] Saheeh Al-Bukhari
[7] Qaradawi, Yusuf, ‘al-Aqaliyyat ad-Diniyya wa-Hal al-Islami,’ p. 58-59
[8] Quoted by Siba’i, Mustafa, ‘Min Rawai Hadaratina,’ p. 147