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Steven Barboza, ex-católico, EUA

1526 2015/07/23 2024/11/17

Esse ex-católico afroamericano encontrou paz espiritual e realização no Islã ortodoxo, tendo investigado e rejeitado a ideologia racista da Nação do Islã.

O meu afastamento do catolicismo romano foi motivado pela morte prematura de minha mãe, com a idade de 49 anos, um dia antes do meu aniversário de 22 anos.  Orei a Deus como um louco para poupá-la e quando Ele não o fez, estabeleci uma nova linha de comunicação.  Chamei Deus de Allah e orei com as palmas de minha mão para cima e meus olhos bem abertos. Dada a ironia e absurdo dos eventos na Boston dividida racialmente, onde morava, o Islã era uma bênção.  Poucos meses após a morte de minha mãe, brancos atacaram um negro em frente à prefeitura de Boston, usando como arma um mastro com uma bandeira americana.  Com aquele ataque e a morte de minha mãe, uma vida de frustrações alcançou o ponto de ruptura.

Minha odisseia 26 anos atrás não era diferente da de centenas de milhares de negros nos Estados Unidos.  A jornada tornou-se meu jihad - literalmente "esforço" - empreendido não por poder político ou econômico, mas pelo controle de minha própria alma.

O Cristianismo não oferecia um estilo de vida completo como o Islã.  Frequentar a missa uma vez por semana e chamar isso de religião não satisfazia minhas necessidades espirituais.  O Islã oferecia um código de conduta sobre como levar minha vida diária e como me comunicar com Deus.  Prostrar-me em oração cinco vezes ao dia com muçulmano me oferecia mais conforto do que jamais tinha encontrado ao me ajoelhar diante de um crucifixo.

Em 1974, como agora, nos Roxburys e Harlems da América, somente as lojas de bebidas superam em número as igrejas em busca de atenção dos negros e, em minha opinião, ambas doparam milhões de negros americanos.

O Islã com o qual estava familiarizado, parecia a forma perfeita de contra atacar.  Como religião oferecia diretrizes claras para a vida; como movimento social, apoiava-se em um orgulho nascido de cultura e disciplina.

Antes de minha mãe morrer tinha me aprofundado na autobiografia de Malcolm X.  Depois que minha mãe faleceu, mergulhei nela.  Malcolm tinha passado por uma metamorfose: de um gangster a um porta-voz limpo para a Nação do Islã e, finalmente, um convertido ao Islã ortodoxo. Ao longo de sua própria transformação ele tinha mostrado que essa mudança, mesmo do começo mais miserável, era possível.

Claro, a vida de Malcolm e a minha eram muito diferentes.  Ele havia descoberto o Islã na prisão.  Eu o descobri na universidade.  Ele era porta-voz de um visionário teocrata negro.  Eu tinha um emprego administrativo de nível intermediário em uma empresa que estava entre as 500 maiores na lista da Fortune.  Ainda assim, sentia uma ligação com Malcolm e os muçulmanos negros.  A cor de nossa pele fazia de todos nós uma carga em um navio que estava afundando e o Islã acenava como um preservador da vida.

Duas décadas e meia atrás em Boston e Nova Iorque, entretanto, havia poucas mesquitas ortodoxas.  Nas vizinhanças negras, uma instituição, a Nação do Islã, dominava no ensino do Islã ou de uma versão doméstica dele.  Muitos negros que se converteram adotaram os ensinamentos da Nação - suas admoestações por amor próprio e solidariedade racial, sua crença na produtividade e empreendedorismo.  E com ardor igual também adotaram os outros ensinamentos da Nação - seu chauvinismo racial e a crença de que os brancos eram geneticamente inferiores, intrinsicamente "demônios de olhos azuis" que tinham sido criados para ludibriar os negros.

Usando os dois motivadores de mito e orgulho, Elijah Muhammad transformou a Nação em uma das maiores organizações econômicas e religiosas de negros que a América tinha visto.  Conquistou um campeão de boxe peso-pesado que o mundo todo adorava, Muhammad Ali.  Suas mulheres pareciam anjos em seus véus, suas jaquetas brancas e saias na altura do tornozelo. Os homens eram figuras galantes em seus elegantes ternos escuros e gravatas-borboleta de marca.  Mas sentar no templo da Nação em Roxbury era como estar em um júri ouvindo um argumento de encerramento.  Os réus (in absentia): os brancos.  O promotor: um ministro bem vestido que praticamente cospe, dizendo que os brancos são tão demoníacos que sua religião era grotescamente simbolizada por um "símbolo de morte e destruição" - o crucifixo.  A acusação: perpetrar atos covardes contra os negros "em nome do Cristianismo." O veredito: culpado.

Não fiquei muito em minha única visita.  Para mim, demonizar o "inimigo" com a Nação fazia não parecia a melhor maneira de aprender a "amar a mim mesmo". De qualquer forma, abominava a ideia de colocar cor em Deus ou limitar os atributos divinos a uma raça.  E embora Elijah merecesse o crédito por redimir legiões de negros do vício e crime quando tudo o mais, incluindo o Cristianismo, não havia conseguido, não acreditava que merecia o título de "mensageiro" de Allah.

Então me mudei para Nova Iorque e me tornei um muçulmano ortodoxo da forma que todos os convertidos fazem: declarei perante testemunhas muçulmanas minha crença em Allah e minha fé de que o profeta Muhammad, que Deus o exalte, era Seu último mensageiro.  Entrei em uma mesquita sunita e me prostrei em tapetes ao lado de pessoas de todas as etnias.

Aqui era o que considerava um Islã verdadeiro - a ortodoxia para a qual Malcolm havia mudado, aquela para a qual a maioria dos seguidores de Elijah optou quando a Nação do Islã diminuiu após sua morte, o Islã ao qual a maioria dos 135.000 convertidos anuais da América, 80 a 90% deles negros, pertencem.

Em um avião para o Senegal sentei próximo a um negro americano vestindo um robe árabe tradicional.  O homem ia se encontrar com um imame, seu líder espiritual, um muçulmano negro africano.  Mais tarde encontrei outros negros americanos que passaram anos na África estudando o Islã.  Por meio de pesquisa, descobri que 35 por cento dos negros escravizados trazidos para Nova Iorque eram muçulmanos.  Ao se converterem, muitos negros americanos podem simplesmente estar retornando para a religião de seus antepassados.

Ao longo dos anos passei a compreender o que devia ter sido óbvio há muito tempo - que Jesus não havia abandonado minha mãe.  Ela morreu por foi a vontade de Deus, independente da forma como eu realizava minhas orações. 

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