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Karima Burns, ex-cristã, EUA

1492 2015/01/05 2024/11/17

Sentei na mesquita de Alhambra em Granada, Espanha, olhando fixo para a escrita nas bordas das paredes. Era a língua mais bela que já tinha visto. "Que língua é essa?" Disse a um turista espanhol. "Árabe", respondeu.


No dia seguinte, quando o responsável pelo tour perguntou em qual língua queria meu livro do tour, respondi: "árabe".

"Árabe?" disse ela, surpresa. "Você fala árabe?"

"Não", respondi. "Você pode me dar um em inglês também?"


No final da viagem tinha uma mala cheia de guias de viagem para todos os lugares que tinha visitado na Espanha. De fato, minha mala estava tão cheia que em um ponto tive que dar algumas de minhas roupas para que pudesse caber tudo. Mas me apeguei aos meus livros turísticos como se fossem de ouro. Eu os abria todas as noites e olhava as letras do idioma enquanto fluíam pela página. Imaginava ser capaz de escrever aquela bela escrita e pensava comigo mesma que devia haver algo que valesse a pena conhecer sobre uma cultura que tinha um idioma tão artístico. Jurei que estudaria o idioma quando começasse a universidade no outono.

Apenas dois meses antes tinha deixado minha família em Iowa para fazer uma viagem sozinha pela Europa. Estava com apenas 16 anos e devido à entrada na universidade de Northwestern no outono, queria "ver o mundo" primeiro. Pelo menos foi o que disse aos meus amigos e família. Na realidade estava buscando respostas. Tinha deixado a igreja alguns meses antes e não sabia para onde me voltar. Sabia que não estava confortável com o que estavam me ensinando, mas não conhecia alternativas.


Onde cresci, no Meio-oeste, não há espaço para confusão - ou você é parte da igreja, ou não é. Então, não tinha ideia se havia algo mais. Quando parti para a Europa esperava que houvesse.


Em minha igreja não podíamos orar para Deus, só para Jesus, e esperar que ele transmitisse a mensagem a Deus. Intuitivamente sentia que havia algo errado com isso e, assim, sem dizer a ninguém, secretamente orava para "Deus". Acreditava sinceramente que só havia uma entidade para qual orar. Mas me sentia culpada porque não era o que me ensinavam. E havia a questão confusa do que fazer durante a "vida cotidiana".


Obedientemente ia a igreja todo domingo e era muito séria sobre o que aprendia em relação a honestidade, bondade e compaixão. Então, ficava confusa quando via pessoas da igreja agindo tão diferentemente durante a semana. Não havia regras durante a semana? Elas só se aplicavam aos domingos? Procurei orientação, mas não encontrei. Havia os Dez Mandamentos que cobriam as coisas óbvias como assassinato, roubo e mentiras, mas além disso não tinha orientações sobre como agir quando não estava na igreja. Tudo que sabia era: havia algo errado com usar minissaias na igreja e só ir à escola dominical por causa dos meninos bonitos que a frequentavam.


Um dia, fui à casa de um professor e vi uma prateleira alinhada com Bíblias. Perguntei o que eram. "Versões diferentes da Bíblia," explicou meu professor. Não parecia incomodá-lo que existissem tantas versões diferentes. Mas me incomodou. Algumas delas eram realmente diferentes e alguns capítulos até estavam faltando da versão que eu tinha. Estava muito confusa.

Voltei para a universidade naquele outono desapontada por não ter encontrado as respostas que esperava na Europa, mas com uma paixão por um idioma sobre o qual tinha acabado de aprender - o árabe. Ironicamente tinha olhado fixo justamente para as respostas que procurava nas paredes de Alhambra. Mas levei mais dois anos para perceber isso.

A primeira coisa que fiz quando cheguei ao campus foi...inscrever-me nas aulas de árabe. Era uma das únicas três pessoas na aula altamente impopular. Fiquei imersa em meus estudos de árabe com tamanha paixão que meu professor estava confuso. Fiz meu trabalho de casa com uma caneta de caligrafia e fui às áreas árabes de Chicago apenas para tentar achar uma garrafa de Coca-Cola escrita no idioma. Implorei a ele que me emprestasse livros em árabe, só para que pudesse olhar a escrita. Quando cheguei ao meu segundo ano de universidade, decidi que devia considerar uma especialização em Estudos do Oriente Médio. Então, me inscrevi em algumas aulas focadas na região. Em uma aula estudávamos o Alcorão.

Abri o Alcorão uma noite para "fazer meu trabalho de casa" e não consegui parar de lê-lo. Era como se tivesse pego um bom romance. Pensei comigo mesma: "Uau. Isso é ótimo. É o que sempre acreditei. Responde a todas as minhas perguntas sobre como agir durante a semana e até afirma muito claramente que só existe um Deus."


Tudo fez muito sentido. Estava surpresa por haver um livro escrito sobre tudo que acreditava e vinha buscando. Fui para a aula no dia seguinte para perguntar sobre o autor do livro, para que pudesse ler mais livros dele. Na cópia que me deram havia nome. Pensei que fosse o autor do livro, como os evangelhos escritos por São Lucas ou outras religiões que tinha estudado... que atribuem suas escrituras a alguma pessoa que foi inspirada o suficiente para escrevê-la.


Meu professor me informou que não era o autor, mas o tradutor, porque "de acordo com os muçulmanos ninguém tinha escrito o livro." O Alcorão era, de acordo com ELES (se referindo aos muçulmanos) a palavra de Deus e não tinha sido alterado desde que foi revelado, recitado e então transcrito. Desnecessário dizer, fiquei fascinada. Depois disso fiquei apaixonada, não apenas por meus estudos de árabe, mas sobre estudar o Islã e ir ao Oriente Médio.


No meu último ano na universidade finalmente fui ao Egito para continuar meus estudos. Meu lugar favorito se chamava "Cairo islâmico", onde as mesquitas sempre me davam uma sensação de conforto e admiração. Sentia que estando nelas podia-se realmente sentir a beleza, poder e imponência de Allah. E, como sempre, gostava de olhar admirada para a caligrafia elegante nas paredes.


Um dia uma amiga me perguntou por que não me convertia ao Islã, se gostava tanto dele. "Mas já sou muçulmana." Minha resposta me surpreendeu. Mas então, percebi que era uma simples questão de lógica e bom senso. O Islã fazia sentido. Inspirava-me. Sabia que era certo. Por que então tinha que me converter? Minha amiga me informou que para ser "oficial" precisava ir à mesquita e afirmar minha intenção na frente de duas testemunhas [1]. Assim o fiz. Mas quando me deram o certificado, apenas o coloquei em meu arquivo com meus "outros" registros médicos e pessoais, porque para mim, sempre tinha sido muçulmana! Não precisava pendurar um pedaço de papel em minha parede para me dizer isso. Tinha sabido disso no minuto em que peguei o Alcorão. O minuto em que o abri, senti como se tivesse encontrado minha família perdida há muito tempo. Ao invés disso, penduro uma foto da mesquita de Alhambra em minha parede.



Notas de rodapé:

[1]Na verdade as duas testemunhas não são necessárias. Assim que o testemunho de fé é pronunciado, a pessoa se torna muçulmana. É algo entre aquela pessoa e Deus apenas.

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